Título: Muitas críticas à indicação polêmica
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Economia, p. B6

'NY Times' acredita que nomeação pode ser até contestada por países europeus NOVA YORK - O economista Jeffrey Sachs, principal conselheiro do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para assuntos relacionados com pobreza, criticou a nomeação do vice-secretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, para ser o próximo presidente do Bird. "É hora de aparecer outros candidatos, que tenham experiência em desenvolvimento", disse Sachs, que chefia o Instituto da Terra da Universidade Columbia, em Nova York. Ao noticiar a nomeação de Wolfowitz, o jornal The New York Times observou que ela deverá provocar controvérsia, porque o vice-secretário da Defesa foi um dos principais arquitetos da guerra contra o Iraque. Segundo o jornal, alguns países europeus "poderão se sentir tentados a desafiar a tradição e contestar a nomeação", especialmente por que os EUA vetaram, há cinco anos, a indicação do vice-ministro das Finanças da Alemanha, o brasileiro Caio Koch-Weser, para ser o diretor-gerente do FMI. Tradicionalmente, o FMI é comandado por um europeu e o Bird por um americano.

"Não seria a minha escolha, pois eu não nomearia um americano para dirigir o Bird, mas entre as alternativas, sendo americano, republicano e não sendo Colin Powell (o ex-secretário de Estado), Paul Wolfowitz não é dos piores", disse ontem ao Estado o ex-secretário-adjunto do Tesouro, o democrata Edwin Ted Truman.

"Wolfowitz é um homem inteligente, substantivo. Seu problema é que traz uma bagagem política, mas não se deve exagerar a importância disso: Robert McNamara foi o arquiteto da guerra do Vietnã e teve, depois, um bom desempenho como presidente do Banco Mundial", lembrou Truman, referindo-se ao ex-ministro da Defesa dos governos Kennedy e Johnson.

"A questão para Wolfowitz é se ele saberá deixar sua bagagem do Iraque para trás e conseguir convencer o governo Lula, por exemplo, que ele acha importante o desenvolvimento econômico do Brasil", disse Truman, que é hoje pesquisador sênior do Instituto de Economia Internacional.

Steve Clemons, da New American Foundation, foi menos caridoso. Ele vê na nomeação de Wolfowitz o desejo da administração Bush de transformar o Bird num instrumento da diplomacia americana. "A América está dando uma mensagem clara: os neoconservadores mantêm um controle estreito e tenaz sobre a política externa dos EUA e a mais importante instituição multilateral precisa ser disciplinada a responder aos interesses americanos mais paroquiais nos assuntos globais."