Título: PFL diz que intervenção no Rio é 'farsa eleitoral'
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Nacional, p. A6

A guerra entre o Ministério da Saúde e a prefeitura do Rio chegou ontem à Câmara. Entre troca de acusações e até desaforos, partidários do governo federal e do prefeito Cesar Maia (PFL) fizeram sessão especial da Comissão de Fiscalização e Controle sobre a intervenção do ministério em seis hospitais no Rio, com a presença do ministro Humberto Costa. Depois, o presidente da comissão, Alexandre Cardoso (PSB-RJ), anunciou que será criada subcomissão externa de deputados e técnicos do Tribunal de Contas da União para ir ao Rio na próxima semana. "Temos de encontrar os responsáveis. Uma situação assim, em que morreram pessoas, não pode ficar sem responsáveis."

Incompetência, incapacidade de gestão e falta de vontade política foram acusações de Costa ao prefeito do Rio. O troco foram acusações de que o ministro usa a intervenção para ficar no cargo, ameaçado na reforma ministerial.

Em 4 horas de sessão, Costa falou da situação no Rio enquanto funcionários do ministério e sindicalistas lotavam a sala para aplaudi-lo e vaiar os oposicionistas, chegando aos gritos de "Fora Maia". Costa defendeu a intervenção, dizendo que há recursos e estrutura, mas a prefeitura não tem interesse numa solução negociada. "Havia o interesse político de fazer disputa política em detrimento da saúde da população do Rio. Levei ao presidente Lula que não podíamos continuar assistindo àquele jogo e à irresponsabilidade política dos que estão governando a cidade."

O secretário de Saúde do Rio, Ronaldo Cezar Coelho, que representaria a prefeitura, ligou na terça-feira avisando que não iria. Mas o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), defendeu Maia, debaixo de vaias.

Afirmou que o prefeito alertara o ministério para a situação da saúde e acusou Costa de transformar a situação em espetáculo. "É uma farsa eleitoral montada por um ministro que será afastado." Aleluia deixou a comissão sem ouvir a resposta do ministro: "Repilo inteiramente as colocações sobre a gestão do ministério. Desafio qualquer comparativo, com qualquer dos meus antecessores. Incompetente por quê?", perguntou, enumerando várias ações da pasta.

Rodrigo Maia (PFL-RJ), filho de Maia, levou dados para contrapor aos do ministro e disse que o repasse do governo federal caiu R$ 70 milhões entre 2001 e 2004. "Os hospitais são do governo federal. A prefeitura não tem condições adequadas de administrá-los porque não há dinheiro para isso."

Ao observar o ministro anotar o que ouvia, o deputado disse-lhe que não precisava, pois dirigia a palavra ao presidente da comissão, não a ele. Surpreso, Costa parou de escrever, olhou para a platéia, sorriu e continuou anotando.

Em defesa dele, as deputadas do Rio Jandira Feghali (PC do B) e Elaine Costa (PTB) chamaram Maia de criminoso. "É crime de omissão de socorro e deve ser tratado como tal", disse Jandira.