Título: Clima ajuda e chove no discurso contra seca
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Nacional, p. A7

Às vésperas de anunciar a tão esperada reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou ontem que dá nó em pingo d'água. Ao discursar diante da prefeitura de Erechim, uma das cidades gaúchas mais castigadas pela seca, Lula não só teve a sorte de assistir a dez minutos de chuva como conseguiu abafar o protesto dos agricultores, que pediam mais recursos às vítimas da estiagem. Para dissipar as insatisfações, recorreu até mesmo a Querência Amada, música de Teixeirinha que exalta o Rio Grande do Sul, cantada por um garoto de 9 anos. A partir daí, Lula "ganhou" a platéia, formada por cerca de 5 mil pessoas. Não prometeu nada além do pacote já anunciado na sexta-feira, com medidas emergenciais envolvendo recursos de R$ 1, 2 bilhão para agricultores gaúchos atingidos pela seca.

Com um discurso de 40 minutos, preparado para quebrar resistências, Lula repetiu o argumento em defesa da política externa brasileira para lembrar que já enfrentou os EUA e a União Européia no combate aos subsídios agrícolas.

Em tom de conversa com velhos amigos, o presidente anunciou que em maio irá ao Japão, para "vender" a carne do Brasil.

A chuva começou pouco antes, quando discursava o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. Os pingos não duraram nem cinco minutos, mas voltaram quando Lula começou a falar. "Eu estou aqui para discutir estiagem e tem um monte de gente abrindo guarda-chuva. Fico pensando como a TV vai mostrar isso. Vai ser muito engraçado."

MANIFESTAÇÕES

O presidente não viu outras manifestações que reuniram milhares de pessoas descontentes com a ajuda dada até agora às vítimas da estiagem gaúcha. A Via Campesina, tradicional aliada do PT, desprezou a visita presidencial e preferiu manter, até o final do dia, os protestos que fazia em quatro rodovias do Estado. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) reuniu 4 mil pessoas em Viadutos, a apenas 30 quilômetros de Erechim, onde estava Lula, para pedir mais recursos contra a seca.

Nenhuma das organizações de agricultores está contente com o que o governo federal ofereceu até agora. Ao final do dia, as manifestações foram suspensas.