Título: Lula marca data para a transposição do São Francisco
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Nacional, p. A7

CORONEL FREITAS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem, ao falar para pequenos agricultores do Sul do País assolado pela seca, que o processo de licitação para as obras da transposição das águas do Rio São Francisco, no Nordeste, será iniciado ainda neste primeiro semestre. O presidente fez uma reminiscência histórica e afirmou que vai começar uma obra "que Dom Pedro II, em 1846, sonhou fazer e não conseguiu fazer". Lula deveria ir por terra a regiões atingidas pela seca, mas a visita acabou se limitando a um sobrevôo de helicóptero enquanto se deslocava de Chapecó (SC) a Erechim (RS). Mas no discurso que fez na pequena cidade de Coronel Freitas, Lula confessou que a visão da seca no Sul o transportava de volta ao sertão nordestino de 1952, ano em que deixou Garanhuns (PE), rumo a São Paulo.

"Para nós, nordestinos, era humanamente impossível imaginar que o Sul, região considerada a mais rica do país, tivesse no começo do século XXI os mesmos problemas que nós temos detectado há mais de 300 anos", disse. Lula responsabilizou as elites brasileiras por não terem se preocupado, "nos últimos 30 ou 40 anos, em criar alternativas para se enfrentar as intempéries".

EM CAMPANHA

Empolgado e usando seu habitual tom coloquial, Lula esteve próximo das falas de campanhas eleitorais: "Eu só sou presidente da república por causa de vocês. Só. Se um dia, por mais grave que tenham problemas, por mais ingrata que esteja acontecendo em nossas vidas, e eu não tiver coragem de encontrar com o meu povo é por que eu estou fazendo uma coisa errada", disse.

Contou ter consciência de que "o exercício do mandato é muito temporário" e que, no poder, o governante não pode se transformar em personagem. "Se assim o fizer, quando terminar o seu mandato, ele vai olhar para frente, vai olhar para trás, vai olhar para os lados e perguntar: aonde estão todos aqueles que eu pensei que estavam comigo quando eu estava no poder?"

Coube ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, anunciar mais uma vez as medidas do governo federal para a seca sulina. Não havia novidades, apesar de o coordenador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), Dirceu Dresch, ter afirmado antes que seriam anunciadas novas ações.

Lula reconheceu que as medidas são insuficientes e destacou a necessidade de criar soluções definitivas para os problemas de seca e das enchentes no País, numa estratégia conjunta dos governos federal, estaduais e municipais. "É preciso criar mecanismos para dar às famílias condições para enfrentar os momentos difíceis que a natureza causa", disse.

Mas procurou absolver de culpas o seu governo: "Tenho orgulho de integrar uma equipe que não demora em tomar as medidas", disse, ao ressaltar as providências adotadas pelo governo sexta-feira passada. Entre elas, a liberação de R$ 408 milhões, sendo R$ 300 milhões já, e mais a antecipação dos créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que soma R$ 800 milhões.