Título: "Não estamos dispostos a parar de proteger nosso país, o sangue e a honra de nosso povo", diz líder do grupo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Internacional, p. A14

O grupo xiita libanês Hezbollah rejeitou ontem o chamado do presidente americano, George W. Bush, para que deponha as armas e se integre completamente ao processo político no Líbano. "Pedem-nos que nos desarmemos para deixar o Líbano indefeso", afirmou o líder do grupo, xeque Hassan Nasrallah, em entrevista à TV Al-Manar, do Hezbollah. "Nossa força protegeu o sul do país e continua protegendo nossa terra da agressão de Israel", acrescentou. "Estamos dispostos a permanecer até o fim dos tempos como uma 'organização terrorista', segundo o ponto de vista de Bush, mas não estamos dispostos a parar de proteger nosso país, o sangue e a honra de nosso povo." Seguindo o exemplo de militares e agentes de inteligência da Síria, trabalhadores sírios que estão no Líbano também começam a deixar o país temendo ataques de grupos da oposição anti-Síria. Nas últimas semanas, ônibus e caminhões lotados de civis têm cruzado a fronteira. Nasrallah, denunciou ontem, durante sua entrevista, que "entre 20 e 30 trabalhadores sírios foram assassinados recentemente".

Segundo o governo libanês, há cerca de 800 mil trabalhadores sírios no Líbano - na maioria, em funções que não exigem mão-de-obra especializada, como varrição de ruas e operários da construção civil. Ganham em média o equivalente a US$ 15 por dia, pouco mais da metade do que ganharia um trabalhador libanês.

Ontem, na Casa Branca, Bush voltou a exigir a retirada total das tropas e dos agentes de inteligência sírios do Líbano para que as eleições parlamentares de maio no país sejam "limpas e justas". Bush fez a declaração ao receber o líder da Igreja maronita, Nasrallah Sfeir, uma das figuras mais destacadas da oposição cristã no Líbano.

Os postos do serviço secreto sírio foram totalmente abandonados ontem, segundo informações do governo libanês. Muitos desses escritórios foram tomados por ativistas da oposição, que invadiam os locais e colocavam cartazes do assassinado ex-primeiro-ministro Rafic Hariri e bandeiras libanesas nas janelas. A oposição atribui à inteligência síria, com a complacência do governo libanês, a autoria do atentado que matou Hariri em fevereiro.

Em sua retirada, os agentes deixaram um rastro de arquivos queimados, papéis reduzidos a cinzas e mobília destruída. Alguns dos locais tinham celas de confinamento, e testemunhas encontraram objetos supostamente utilizados para torturas.

A saída dos agentes sírios de Beirute coincidiu com a partida do grupo de especialistas da ONU que investiga o atentado contra Hariri.