Título: Pinochet: 125 contas nos EUA
Autor: Eric Dash
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Internacional, p. A16

Um relatório de uma comissão do Senado indica que os elos entre o ex-ditador chileno Augusto Pinochet e as instituições financeiras americanas foram mais profundos e mais amplos do que antes revelado. Com base em novas informações fornecidas pelas instituições, os investigadores do Senado descobriram que Pinochet conseguiu movimentar milhões de dólares por meio de mais de 125 contas mantidas nos Estados Unidos.

O relatório de 86 páginas mostra que o escândalo de lavagem de dinheiro que inicialmente se concentrou no Riggs Bank, uma instituição de Washington que ligava os mundos financeiros e políticos, se ampliou, estendendo-se a ao menos outras oito instituições que operam nos EUA e outros países.

Em julho, o Subcomitê Permanente do Senado sobre Investigações concluiu que executivos do Riggs e responsáveis pela regulamentação das operações bancárias, mesmo após o 11 de Setembro de 2001, não monitoraram transações financeiras suspeitas envolvendo centenas de milhões de dólares.

Ao mesmo tempo, o comitê identificou contas que mostram que o Riggs tinha uma associação de oito anos com Pinochet. Mas o novo relatório diz que tanto o Riggs como o Citigroup tinham laços com ele que datavam de duas décadas, com cotas num total de no mínimo US$ 9 milhões mantidas por membros de sua família, amigos próximos e ele mesmo.

O relatório diz também que contas no Bank of America, Banco de Chile nos Estados Unidos, Espirito Bank em Miami e quatro bancos privados em paraísos fiscais poderão estar ligadas ao ex-ditador.

"A única forma de proteger nosso sistema financeiro dos vilões é os bancos e nossas empresas de valores mobiliários conhecerem seus clientes", disse o senador Carl Levin, democrata de Michigan, que ajudou a comandar a investigação.

"Nossos bancos ou conheciam seus clientes, como no caso do Riggs", e apesar disso fizeram negócio com Pinochet, "ou, no caso do Citibank, não conheciam os clientes ou deveriam tê-los conhecido". "Eles deveriam ter sabido a origem do dinheiro". O Riggs recusou-se a comentar o relatório, a não ser para dizer que nenhum dos funcionários envolvidos continua trabalhando na empresa. Uma declaração do Citigroup admitiu as descobertas factuais dos eventos passados contidas no relatório.

Os outros bancos ou não puderam ser contactados ou se recusaram a comentar. Todas as instituições financeiras identificadas no relatório cooperaram com a investigação.

Em Santiago, militares mencionados como participantes do esquema bancário de Pinochet desmentiram categoricamente vinculações com o caso. "O general Pinochet nunca me deu um peso, nem eu a ele", disse o genearal e ex-ministro Jorge Ballerino.