Título: China a EUA: não interfiram
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2005, Internacional, p. A10

WASHINGTON - O presidente da China, Hu Jintao, aconselhou ontem o governo dos Estados Unidos a medir seus pronunciamentos sobre a questão de Taiwan e respeitar a decisão chinesa, consagrada agora em lei, de inibir quaisquer ambições separatistas da ilha, que os chineses consideram parte integrante de seu território. "Esperamos que os Estados Unidos não enviem nenhum sinal errado às forças divisionistas de Taiwan", Hu disse à secretária de Estado, Condoleezza Rice, no primeiro dos dois dias da visita que a chefe da diplomacia americana iniciou ontem a Pequim, na última escala de uma viagem de uma semana à Ásia.

Os EUA são os maiores fornecedores de armas de Taiwan e criticaram a legislação adotada há duas semanas pela China, que autoriza o país a intervir preventivamente ante proclamações separatistas da ilha.

A lei anti-secessão, segundo o líder chinês, assegura "a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan". A mensagem de Hu foi reiterada pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, com quem Condoleezza também se encontrou ontem.

A visita da secretária de Estado a Pequim ilustra a mudança, da Europa para a Ásia, do eixo das conversações sobre segurança internacional provocada pelo colapso da União Soviética e a ascensão da China. O objetivo principal de Condoleezza na China é conseguir a cooperação chinesa para convencer a Coréia do Norte a retomar as negociações sobre as condições em que aceitaria encerrar seu programa nuclear.

"Precisamos resolver essa questão, ela não pode continuar (sem solução) para sempre", disse Condoleezza antes de chegar à capital chinesa.

Como vizinho, aliado e principal fornecedor de alimentos, eletricidade e combustível à Coréia do Norte, a China é o único país em posição para pressionar Pyongyang a voltar à mesa de negociações. Mas as autoridades chinesas têm dito aos americanos que sua influência sobre os norte-coreanos é limitada (ler abaixo) e a retórica estridente da administração Bush dificulta sua atuação.

Em sua passagem por Tóquio, sábado, Condoleezza descartou o uso da força para resolver a questão. As conversações, que envolvem também Japão, Coréia do Sul e Rússia, estão suspensas desde o ano passado e enfrentam dificuldades que vão além da resistência do regime norte-coreano ao compromisso. Segundo o Washington Post, o governo Bush contribuiu para complicar o problema ao prestar informações falsas a Pequim, Seul e Tóquio sobre atividades de proliferação nuclear da Coréia do Norte (ler ao lado).

Outro tópico delicado na agenda de Condoleezza em Pequim é a oposição americana à disposição da União Européia de levantar o embargo de armas avançadas à China, imposto em 1989 em represália ao massacre do movimento pró-democracia na Praça da Paz Celestial.

Em sua visita a Seul, Condoleezza afirmou que os EUA têm preocupações sobre os gastos militares chineses (que aumentarão 12,6% este ano), o poder militar potencial da China e sua crescente sofisticação.