Título: Perueiros param:choques,vandalismo
Autor: Moacir Assunção
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Cidades, p. C1

Pela segunda vez em menos de um mês os perueiros protagonizaram cenas de guerra e vandalismo no centro da cidade. A polícia investiga a participação dos donos de peruas e líderes da categoria nos incêndios de dez ônibus em ataques nas zonas sul, leste e norte. No Rio, uma greve dos motoristas de ônibus provocou transtornos no trânsito carioca. Assim como em 19 de fevereiro, a razão do confronto com policiais no centro foi a questão dos repasses da remuneração para as seis cooperativas. Os perueiros reclamam que, apesar do aumento da tarifa de R$ 1,70 para R$ 2,00, os repasses diminuíram para R$ 0,70 ante R$ 1,10 pagos até fevereiro. Sem conseguir o que queriam, os perueiros anunciaram que a greve continua hoje.

O confronto de ontem começou por volta das 10h40, quando um grupo de perueiros tentou fechar o Viaduto do Chá. Foram contidos por policiais, mas o viaduto ficou interditado por meia hora. Um outro grupo de policiais chegou pelo outro lado do viaduto e expulsou os manifestantes. Os perueiros começaram a jogar pedras nos PMs, que respondiam com bombas de efeito moral. Perueiros mais exaltados começaram, então, a jogar pedras nos ônibus. Os vidros do veículo que vinha na frente foram quebrados e o motorista parou. Os cabos de conexão do trólebus caíram e paralisaram mais ônibus.

"Quando os vi chegando, avisei os passageiros e fugi. Fiquei com medo", afirmou o motorista César Matias. Na Praça do Patriarca, um pedestre foi por uma bomba de gás lacrimogêneo. A polícia prendeu dois perueiros sob acusação de atirar pedras.

O presidente do Sindicato das Cooperativas (Sindilotação), Senival Moura, atribuiu o impasse nas negociações, que já se arrastam há dois dias, à intransigência dos empresários de ônibus, que não estariam aceitando ceder parte da remuneração do sistema aos perueiros. "A Prefeitura fez uma proposta, que aceitamos, de abrir mão do subsídio mensal de R$ 6,5 milhões e receber pela tarifa cheia. Transportamos 40% dos passageiros e queremos receber por esse porcentual, mas os empresários não toparam", disse.

Moura garantiu que os perueiros não incendiaram os dez ônibus. "Isso pode ser coisa de grupos interessados em denegrir a imagem da categoria, que poderiam até ser ligados aos empresários", atacou.

O sindicato das empresas de transporte urbano, o SP Urbanuss, informou que não comentaria a acusação, mas disse esperar que as autoridades esclareçam os crimes.

O capitão da PM Fábio Justino, da Seção de Relações Públicas, defendeu a ação da corporação. "Só começamos a agir quando os perueiros passaram a desrespeitar o direito das demais pessoas de circularem pela cidade".