Título: Desarmamento une Lula e FHC
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Cidades, p. C4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se engajar na campanha que pedirá à população para votar a favor da proibição do comércio de armas, no referendo marcado para 2 de outubro. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se prontificou a participar da frente pelo desarmamento. As informações são do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que comparou o primeiro referendo a ser realizado no País a "uma grande campanha política, no sentido mais alto da expressão". "Há grande entusiasmo com a campanha, independente de partidos. Conversei com Fernando Henrique Cardoso no fim de semana e ele se dispõe a fazer gravações com o presidente Lula, a fim de que se mostre que o desarmamento significa mais paz e mais segurança. O prefeito José Serra também está absolutamente integrado", disse o ministro ontem.

Bastos esteve no Rio para a abertura do 1.º Seminário Internacional sobre Regulamentação da Posse e do Uso de Armas Pequenas por Civis, que reúne representantes de 20 países. Embora já tenha data marcada e verba de R$ 210 milhões do Tribunal Superior Eleitoral reservada, o referendo ainda precisa ser aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado. Para o ministro, o lobby dos fabricantes de armas no Congresso "faz parte da democracia".

Também empenhado na campanha do desarmamento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que vai conversar com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para que o referendo seja votado e aprovado o mais rápido possível, pois ainda precisa voltar ao Senado. Calheiros não aprova sugestões de que se aproveite o referendo das armas para consultas populares sobre outros temas. "Defendo que pratiquemos mais essas formas diretas de democracia. Incluir outros temas enfraquece, pulveriza, divide."

Ontem mesmo, o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Pedro Scherer, enviou carta a Severino Cavalcanti, pedindo urgência na votação sobre o referendo.

A realização de um referendo para que a população se manifeste a favor ou contra a proibição da venda de armas de fogo, acessórios e munição faz parte do Estatuto do Desarmamento, que já restringe o uso de armas e prevê a numeração de toda munição usada no País. Segundo Bastos, todas as providências estão sendo tomadas para permitir que seja possível identificar a origem da munição. "Daqui a pouco o controle se fará de maneira absoluta", prometeu.

REFORÇO

O ministro explicou que foi adiada a chegada dos policiais da Força Nacional ao Rio porque foi preciso preparar o quartel do Batalhão de Operações Especiais (Bope), onde será feito o treinamento. A chegada de 600 policiais de elite de vários Estados, treinados para agir em áreas com graves problemas de segurança pública, estava prevista para o dia 11.

"Foram necessárias reformas arquitetônicas e estruturais no Bope. Estamos agindo em perfeita consonância com o governo do Estado", afirmou Bastos. Segundo ele, "em alguns dias", a Força Nacional estará no Rio.