Título: Crédito a aposentados atrai bancos
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Economia, p. B5

Instituições descobrem o potencial do empréstimo consignado aos beneficiários do INSS e investem neste novo mercado

Considerados durante anos consumidores de baixo potencial, os aposentados se transformaram em um grande negócio para os bancos e têm contribuído para revolucionar o mercado de crédito brasileiro, além de impulsionar a economia. Em pouco mais de três meses, 11 instituições, especialmente as de pequeno e médio portes, conseguiram autorização do Banco Central (BC) para disputar a concessão de empréstimo consignado (com desconto na folha de pagamento) aos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De olho em 22 milhões de clientes, outros nove bancos aguardam permissão para explorar esse novo filão. Embora seja muito recente, o mercado de empréstimo consignado, especialmente para os aposentados e pensionistas do INSS, tem um potencial enorme de crescimento, avaliam os especialistas. "Até o final deste ano, 70% desse mercado estará consolidado", afirma o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), Erico Sodré Quirino Ferreira.

Até o dia 13 de janeiro passado - último balanço da Empresa de Tecnologia e da Previdência Social (Dataprev) -, 1.019.100 empréstimos haviam sido concedidos a aposentados e pensionistas, totalizando R$ 2,766 bilhões. Apesar da cifra alta, o valor representa somente 5,48% do total de aposentados e pensionistas de todo o Brasil - o que revela o alto potencial do mercado.

VANTAGENS PARA TODOS

Segundo especialistas, essa forte expansão dos empréstimos consignados, voltados aos aposentados, funcionários públicos e empresas privadas, têm conseguido neutralizar o efeito do aumento das taxas de juros e sustentar o crescimento do consumo.

Os bancos já perceberam a força desta nova modalidade de crédito e não têm medido esforços para conquistar os novos consumidores. "É um nicho de mercado muito importante", acredita o diretor-superintendente do Banco Cruzeiro do Sul, Adolpho Nardy Filho.

Há vantagens para ambos os lados. Os juros baixos deste tipo de crédito - em média, entre 1,5% e 3,5% ao mês - dão um pouco mais de fôlego ao bolso dos consumidores. Em linhas tradicionais, a taxa média está em 5%. Os ganhos para os bancos são ainda maiores. Apesar dos juros reduzidos, a operação tem baixo risco de inadimplência. Isso porque as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento do INSS. Ou seja, na data de recebimento, o aposentado recebe seu pagamento já com o desconto do empréstimo.

Há, no entanto, o risco de morte e de fraude no sistema da Previdência, afirma Alberto Rigotto, vice-presidente-executivo do Banco de Minas Gerais (BMG) - primeiro banco privado autorizado a fazer empréstimo consignado com o INSS. "O aposentado era muito mal atendido pelo sistema bancário. Nem conta o banco queria abrir para ele", lembra o executivo.

Ao lado da Caixa Econômica Federal, instituição que começou a conceder crédito consignado em maio do ano passado, o BMG é responsável por 87% das operações realizadas e por 89% do total de dinheiro emprestado. A Caixa repassou R$ 1,3 bilhão e o BMG, R$ 1,1 bilhão. A diferença é que o banco privado só começou a operar neste mercado em setembro.

COMPETIÇÃO

Mas a liderança das duas instituições já começa a ser perseguida pelos outros bancos que entraram recentemente neste mercado. A disputa pode ser percebida nos rádios e canais de televisão, com anúncios sobre as vantagens do crédito com desconto em folha de pagamento.

Uma das mais recentes instituições nesta modalidade é o Banco Panamericano, do grupo do apresentador de televisão Silvio Santos. A instituição estreou no empréstimo consignado no dia 16 de janeiro e já lançou uma campanha publicitária na TV. Segundo o vice-presidente do banco, Rafael Palladino, a expectativa é investir cerca de R$ 50 milhões em mídia para promover o crédito com desconto em folha.

A primeira campanha do novo produto foi lançada no mês passado e teve como garota-propaganda a apresentadora do SBT Hebe Camargo. A partir deste mês, outros artistas famosos tentarão convencer o aposentado das vantagens do produto. "Acredito que poderemos chegar a R$ 80 milhões de crédito por mês", afirmou o executivo.

Quem também apostou em artistas famosos para atrair o consumidor é o BMC, que contratou o ator Paulo Goulart para estrelar seus comerciais. Mas o BMG não quer perder terreno e pretende investir neste ano R$ 18 milhões em campanhas publicitárias. "Temos de mostrar a importância do aposentado para o banco. Por isso, criamos facilidades, como fazer operações pelo telefone."

Na avaliação de Ferreira, presidente da Acrefi, até agora BMG e Caixa jogaram praticamente sozinhos neste mercado. Daqui para a frente, terão de dividir com outras instituições esse nicho tão promissor. Mas, admite ele, os pioneiros continuarão tendo vantagens. "Esta modalidade de crédito é o início de uma reforma no sistema bancário brasileiro", avalia Alberto Rigotto, do BMG.