Título: Expansão da indústria segue a rota das rodovias
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Economia, p. B7

Empresas disputam espaços ao longo dos eixos rodoviários em processo de formação ou em consolidação

SOROCABA - No passado, eram as ferrovias. Hoje, são as grandes rodovias que levam a expansão industrial ao interior de São Paulo. Além das rotas já tradicionais, formadas pelas Rodovias Presidente Dutra, no Vale do Paraíba; sistema Anhangüera-Bandeirantes, até Campinas; e Anchieta-Imigrantes, em direção ao Porto de Santos, as indústrias disputam os espaços ao longo de eixos rodoviários em processo de formação ou consolidação. Bastou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciar, no mês passado, a duplicação da Rodovia dos Tamoios (SP-99), que liga o Vale do Paraíba ao litoral, para causar intensa movimentação entre empresários na região de Campinas. "A Tamoios duplicada vai oferecer uma nova saída para o mar à indústria desta região", afirma o diretor regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Luiz Alberto Soares Souza. Campinas e adjacências formam um grande centro exportador com mais de 8 mil indústrias, até agora dependentes, para as cargas marítimas, do Porto de Santos.

A duplicação da Tamoios e a ampliação do Porto de São Sebastião, também anunciada pelo governador, vão oferecer alternativa para exportação e importação. O porto do litoral norte é o único em águas profundas com condições de receber navios de grande calado. "Para acesso, teremos um corredor de pista dupla, formado pelas Rodovias D. Pedro I, Carvalho Pinto e Tamoios."

A perspectiva desencadeou grande procura por áreas industriais ao longo da D. Pedro. Tanto que alguns municípios já estão mudando suas características, diz Souza. Valinhos, antiga "capital do figo", e Itatiba, famosa pela fruticultura, ostentam agora um parque industrial diversificado.

Muda também Santana de Parnaíba, município cortado, de um lado, pela Castelo Branco e, do outro, pelo sistema Anhangüera-Bandeirantes. Conhecida pelo turismo histórico e pelos condomínios residenciais de alto padrão, a cidade tem a economia sustentada por dois distritos e vários condomínios industriais. "Criamos zonas de uso industrial, apostando na vinda de empresas", diz o secretário de Comunicação Jamil Akkari. O município oferece incentivos fiscais, como isenção total ou parcial do IPTU e ISS.

A abertura das marginais na Castelo Branco e o Rodoanel provocaram nova corrida de empresas à região, segundo ele. O preço médio do metro quadrado das áreas próximas à Castelo voltou a crescer nos dois últimos anos, oscilando entre R$ 50,00 e R$ 150,00.

A Goodyear escolheu o bairro do Cururuquara, na beira da estrada, para instalar uma fábrica de mangueiras para a indústria petrolífera. As obras estão na terraplenagem, mas a indústria deve operar em um ano, segundo o secretário. "Serão criados 500 empregos."

Em Araçariguama, os 20 mil moradores esperam a entrada em operação da siderúrgica do grupo Gerdau, previsto para este semestre. Será a maior indústria da região - só ela vai mais do que dobrar a receita da cidade, de R$ 14 milhões para R$ 30 milhões por ano. O município, cortado pela Castelo Branco, apostou forte na industrialização e recebeu 80 empresas antes da Gerdau.

BOLA DA VEZ

O eixo rodoviário passa ainda por São Roque, Mairinque e Sorocaba. Até Boituva, a 115 quilômetros da Capital, atrai empresas. As indústrias dominam o eixo da Rodovia Santos Dumont, entre Campinas e Sorocaba. São mais de 5 mil empresas, a maioria de porte médio a grande. Em Sorocaba, concentram-se ao longo da Castelinho, nome que o eixo duplicado assume no local. O município, com 2,7 mil empresas, garantiu a instalação de mais 37 unidades este ano, com R$ 1 bilhão de investimentos e 30 mil empregos.

"Sorocaba é a bola da vez, nossos índices de desenvolvimento econômico estão 30% acima da média estadual", diz o prefeito Vítor Lippi (PSDB). O novo plano diretor, em vigor desde o ano passado, definiu as áreas de concentração industrial, a maioria em margens de rodovias. "Esse planejamento garante aos investidores a segurança de que não haverá conflitos com os núcleos residenciais."

O eixo abriga a Estação Aduaneira (Eadi), entreposto de exportação, em Sorocaba, e o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Entre os dois pólos, as cidades de Itu, Salto e Indaiatuba disputam indústrias como a fábrica de bebidas Schincariol, de Itu, e a montadora de automóveis Toyota, em Indaiatuba.

"Estamos numa posição estratégica, a menos de 10 minutos de Viracopos", diz o diretor de Indústria e Comércio de Indaiatuba, Evandro Magnusson. A cidade atraiu 530 empresas, a grande maioria após a duplicação da Santos Dumont. Terrenos próximo da pista valem R$ 150,00 o metro quadrado.

No eixo, o desemprego é muito baixo. O jardineiro Paulo Lima, de 44 anos, de Salto, não sabe o que é ficar parado. Depois de trabalhar em várias indústrias e numa empresa de ônibus, foi contratado há dois anos e meio pela fábrica de produtos de limpeza Ypê. Ele usa condução da empresa para deslocar-se do trabalho para casa, na periferia da cidade. "Tenho mulher e dois filhos. Graças a Deus trabalho não falta."