Título: Senado americano aprova lei para religar sonda de Terri
Autor: Reuters e AP, com Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2005, Vida&, p. A15

WASHINGTON - O Senado americano aprovou ontem por unanimidade um projeto de lei destinado a prolongar a vida de Terri Schiavo, de 41 anos, há 15 mantida em estado vegetativo e alimentada por uma sonda - desligada na sexta-feira por ordem judicial. Para entrar em vigor, o texto aprovado pelos senadores deverá ser votado pela Câmara de Representantes (a previsão era de que a votação começasse às 2 horas da madrugada, horário de Brasília) e sancionado pelo presidente George W. Bush ainda hoje. O projeto de lei transfere a decisão sobre o caso para a Justiça Federal, que deve mandar religar, pelo menos temporariamente, a sonda que pode manter Terri viva. A manobra do Senado foi resultado de um acordo político dos republicanos forjado no sábado, 24 horas depois de os médicos terem removido a sonda de alimentação em obediência a uma decisão da Justiça da Flórida. Enquanto o presidente George W. Bush voltava a Washington de suas férias para assinar a lei, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, afirmou: "O tempo é importante (...) Creio que as horas fazem diferença desta vez."

Foi a demonstração da dimensão política que o caso tomou devido à ação dos republicanos, interessados em conquistar setores católicos conservadores. Ontem mesmo, antes da votação do Senado, os líderes do partido na Câmara de Representantes tentaram convocar uma rara sessão dominical para votar o projeto de lei. A tentativa falhou devido à oposição dos democratas, que acusaram alguns republicanos de agir por interesse político.

Para os republicanos, prolongar a vida de uma mulher em estado vegetativo é uma oportunidade para ganhar os votos da direita religiosa, uma ala crucial para as eleições legislativas do ano que vem. Já os democratas, minoria no Congresso, consideram a intervenção do poder legislativo no caso injustificada e imprudente. Mesmo assim, estão agindo com cautela para não serem acusados, novamente, de um suposto desprezo em relação aos valores morais, um dos fatores que pesaram na reeleição de Bush.

"Tom DeLay deveria envergonhar-se de ter encontrado uma causa para esconder-se de seus problemas", disse ontem o marido de Terri, Michael Schiavo, referindo-se ao uso político que o ultradireitista líder republicano da Câmara, atualmente sob suspeita de corrupção, e grupos religiosos conservadores estão fazendo do drama que divide sua família. O marido de Terri diz que ela pediu para não ser mantida viva artificialmente, mas o resto de sua família discorda. Em Pinellas Park, Flórida, a mãe de Terri, Mary Schindler, pediu que os congressistas agissem. "Minha filha está no prédio atrás de mim morrendo de fome", disse Mary a repórteres.

A lei votada pelo Senado reverte a decisão do tribunal da Flórida, mas não garantirá um desfecho diferente para Terri. Pelo projeto, fica definido que a Justiça Federal deve analisar quem tem o direito legal de decidir questões de nutrição de pacientes que a medicina considera em estado vegetativo irreversível. O marido de Terri, é seu guardião legal.

Em meio ao circo político, deputados e senadores têm tomado o cuidado de manter o caso em seu próprio trilho e não misturá-lo com o debate sobre a eutanásia, uma prática legal em apenas um Estado americano - o Oregon - e requer, como precondição, que o paciente terminal esteja consciente e solicite duas vezes assistência médica para morrer.