Título: Lojas camuflam os juros embutidos
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2005, Economia, p. B1

A regra básica para o consumidor é pesquisar muito antes de fechar negócio à vista ou a prazo. A recomendação é do matemático José Dutra Vieira Sobrinho que, a pedido do Estado, avaliou planos de pagamento oferecidos por três grandes redes de loja da cidade de São Paulo na semana passada e constatou incoerências entre o preço anunciado e o real custo. O produto escolhido foi um televisor de 20 polegadas, mono, da marca LG. Na primeira loja, foi encontrado, à vista, por R$ 599, e podia ser parcelado em 12 vezes sem acréscimo no cartão de crédito. Outra opção da loja: dividir em 18 vezes sem entrada, com prestações mensais de R$ 39,90, juros mensais de 5,43%.

Dutra diz que o valor à vista anunciado é fictício. Descontada a taxa de juros cobrada pela rede no plano de 18 vezes, o preço à vista seria de R$ 451,13, detalha. No caso do plano em dez prestações no cartão, mesma taxa de juros (5,43% ao mês), o preço à vista seria de R$ 431,92. "Ninguém vende a mesma mercadoria por preços à vista tão diferentes", afirma o matemático, para quem não há coerência nas ofertas feitas pela loja para o mesmo produto.

Na segunda loja pesquisada, o preço à vista do televisor era um pouco menor - R$ 579. A loja também dava a opção de pagamento em três vezes sem acréscimo no cheque ou cartão ou em três vezes sem entrada com prestações de R$ 215,37. Depois de muita insistência do Estado, o vendedor admitiu que poderia dar desconto de 5%, com a TV a R$ 550, se o pagamento fosse no ato.

De acordo com Dutra, ao admitir desconto de 5%, o vendedor revelou que há juros embutidos no preço anunciado. Isso significa que o preço à vista real da mercadoria é R$ 550 e não os R$ 579 da etiqueta. "O juro embutido no plano de três prestações, com entrada e anunciado como sem acréscimo, é de 5,37% ao mês."

Na terceira loja, o valor à vista do mesmo televisor é o mais baixo em relação às demais: R$ 569. As opções de pagamento são em dez vezes sem acréscimo com cartão da loja ou em 15 vezes com entrada em mensalidades de R$ 58. Neste caso, Dutra observa que fica mais difícil descobrir o real preço à vista. Mas partindo do pressuposto da lógica financeira de que o dinheiro tem um custo no tempo, ele admitiu como taxa o quanto a loja desembolsaria para buscar recursos no mercado. Por esse raciocínio o juro seria de, no mínimo, 1,75% ao mês, que corresponde a taxa básica de juros de 19,25% ao ano. Assim, o preço à vista real no plano de dez vezes seria de R$ 518.

O matemático dá dicas. Quem quer comprar à vista, deve pesquisar em várias redes e pechinchar. Já o interessado em comprar a prazo deve fixar o número de prestações e buscar a loja que oferece a menor parcela. "Essa é a forma de fazer o melhor negócio para quem desconhece o cálculo dos juros."