Título: Ata e juros nos EUA atraem atenção
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2005, Economia, p. B4

O mercado vai tocar os negócios desta semana, mais curta por causa da Sexta-Feira Santa, com a atenção dirigida a dois eventos importantes, um doméstico e outro no exterior. O primeiro é a reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), que se reúne amanhã para decidir o rumo dos juros de curto prazo americanos, que subiram de 2,25% ao ano para 2,5% em 2 de fevereiro. O outro é a divulgação, na quinta-feira, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que, na semana passada, acrescentou mais 0,5 ponto percentual e puxou a taxa básica de juros de 18,75% ao ano para 19,25%. "A ata do Copom será o eixo central da semana para o mercado, que quer encontrar nela pistas dos próximos passos do Banco Central na política monetária", comenta Rogério Mori, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mori lembra que o interesse pela ata ficou fortalecido porque boa parte do mercado apostava, com base na ata anterior, em uma última rodada de ajuste da taxa básica na reunião da semana passada. Essa idéia, contudo, foi afastada pelo comunicado divulgado após o encontro. Nele, o BC sugere que, dependendo da trajetória da inflação e das condições da economia, o aperto nas taxas de juro poderá ter continuidade. Segundo Mori, não será surpreendente se houver indicação de novas altas dos juros, porque a inflação corrente está rodando em torno de 0,6% ao mês e as expectativas para este ano estão acima da meta de 5,1%.

Daí por que o interesse está voltado também a dados de inflação que serão divulgados nesta semana. Os principais são a inflação de março pelo IPCA-15, que será conhecida na quinta-feira, e a segunda prévia do mês pelo IGP-M, amanhã. O IPCA-15 é considerado uma antecipação do IPCA, a inflação oficial adotada como referência pelo BC para administrar as taxas de juro.

A indicação do rumo que pode tomar a política monetária nos EUA poderá ser dada pela reunião do Fed amanhã, avalia Mori. A maioria das estimativas aponta para novo reajuste de 0,25 ponto percentual no juro básico, mas o foco é o comunicado, em que o Fed poderia dar alguma indicação do ritmo do aperto monetário daqui para a frente.

O encontro passou a atrair maior atenção porque ocorre em momento de piora de humor com o cenário externo, por causa da maior mobilidade dos juros dos títulos do Tesouro americano (treasuries) de 10 anos, que ameaçam resvalar acima do nível de 4,5%, e da pressão sobre as cotações internacionais do petróleo. "Tanto o petróleo quanto os juros nos EUA afetam o cenário externo, com reflexos também sobre os mercados emergentes." A retomada de alta do preço do petróleo e o movimento dos juros americanos foram considerados fatores que, ao lado da resistência da inflação à queda mais consistente, teriam levado o Copom a continuar mantendo posição mais conservadora.