Título: Funcionários e procuradora vêem falhas na segurança
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2005, Metrópole, p. C4

"Quando tem rebelião na Febem, os agentes de segurança são os primeiros que correm." A afirmação, de uma educadora do complexo Raposo Tavares, explica a angústia dos funcionários da instituição. Na sexta-feira, quando menores rebelados tomaram conta de quatro das cinco unidades do complexo e fizeram oito reféns, foi a terceira vez na mesma semana em que os servidores tiveram que sair às pressas dos prédios. "O caos se instalou aqui por falta de segurança." "Eles (os menores) ganham os telhados, conseguem pular nos corredores externos onde a gente fica e vêm com naifas (facas artesanais) para cima da gente. A Febem não nos dá uniformes, nem tonfas (espécie de cassetete). Como vamos nos defender?", questionou um agente de segurança do mesmo complexo. "O jeito é trancar o que dá e sair de lá. Não dá para ter confronto."

A procuradora do Trabalho Cristina Ribeiro vistoriou o Complexo Tatuapé e verificou problemas com a segurança lá também. "Os servidores estavam bastante temerosos. Com razão. Os menores mandam na instituição", afirmou. "A Febem coloca rapazes, alguns de 18 anos, franzinos, com dois ou três dias de treinamento, para conter internos muitas vezes de 19 e 20 anos", criticou Cristina. "Os adolescentes não respeitam os funcionários novos."

O segurança da Raposo Tavares contou que sua equipe recebeu ordem da direção da Febem para ficar no pátio com os internos, sem uniforme nem tonfa. "Não topamos. Todos já fomos ameaçados de morte porque eles querem fugir e sabem que nosso trabalho é não deixar." Então, ficam à paisana do lado de fora. No Tatuapé, há seguranças sem equipamento no pátio. "É muito perigoso", disse Cristina.

O secretário de Justiça e presidente da Febem, Alexandre de Moraes, disse que a presença dos agentes entre os internos visa ampliar a relação da segurança com a parte educacional e garantiu que a estratégia foi pensada a partir de sugestões de entidades de direitos humanos. "Ficam de seis a oito agentes circulando dentro da unidade, com rádios. Se algum deles vê algo suspeito, pode avisar e as providências serão tomadas mais rapidamente", afirmou. A questão das ameaças, disse Moraes, é natural do cotidiano dos seguranças.

Para a representante do Ministério Público do Trabalho, porém, a situação é tão agressiva que configura assédio moral. A procuradora termina nesta semana um relatório sobre a visita ao Complexo Tatuapé e chamará a direção da Febem para uma reunião, com o objetivo de negociar melhores condições de trabalho para os funcionários. Um dos pontos da discussão será sobre a jornada de trabalho, hoje de 12 horas. "Deve-se reduzir isso, é muito tempo. As pessoas ficam muito desgastadas", disse Cristina. Segundo ela, outro problema que precisa ser abordado é o déficit de funcionários na instituição, porque foram contratados até agora menos empregados do que o total de demitidos em fevereiro. Como não foi informado oficialmente do teor do relatório, o secretário preferiu não se manifestar.

RENDA CIDADÃ

Moraes negou que a inclusão das famílias dos internos com bom comportamento no programa Renda Cidadã seja um pagamento para evitar rebelião. "Dizer isso é querer deturpar o programa. A questão principal é renda mesmo", declarou.