Título: 'Eu gosto é de governo', diz Severino
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), afirmou ontem que não se considera responsável pelo fracasso da reforma ministerial e garantiu que não fará oposição ao governo, mesmo com o PP fora da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Tá doido! Eu gosto é do governo", disse. Severino negou que tivesse dado um ultimato a Lula, ao pressionar em favor da nomeação do deputado Ciro Nogueira (PP-PI) para o Ministério das Comunicações. "Eu não exigi coisa nenhuma", observou, acrescentando que não é "tutelado por ninguém" e que faria tudo de novo.

"O que eu faço e digo eu assumo a responsabilidade. Eu sou um homem responsável, disse aquilo e voltaria a afirmar tudo o que disse ontem (segunda-feira). Aqui não tem limitação e eu não aceito interferência de ninguém", afirmou, no intervalo das sucessivas audiências concedidas em seu gabinete ao longo da tarde, depois de passar a manhã em reunião com governadores e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O PP não vai para a oposição, vamos dar sustentação ao governo."

Na avaliação de Severino, não houve reforma, apenas uma "substituição muito simples". Mesmo ressaltando que Lula não quis fazer a reforma, poupou críticas, preferindo afirmar que "ele é livre para fazer o que quiser" e, no exercício do cargo, "usou a caneta e a prerrogativa".

"Nós estamos numa democracia. Como aqui, eu boto na ordem do dia o que eu quero botar. O que está dentro das minhas atribuições, eu não abro mão. Como eu vou interferir na decisão do presidente?", perguntou.

"Como não aceito interferência aqui, não vou interferir na decisão do presidente. É um poder autônomo", continuou. Repetidas vezes, o deputado tentou se eximir da responsabilidade pelo fracasso da reforma, embora os interlocutores do governo tenham usado suas declarações em Curitiba para justificar o recuo do presidente Lula que se sentiu pressionado pelo PP. "Apenas tenho vez e voz. Na hora que eu tenho que falar eu falo."

A exemplo dos demais líderes do PP, Severino Cavalcanti disse que apenas levou o nome do deputado Ciro Nogueira ao presidente, depois da decisão da bancada. O líder do PP, deputado José Janene (PR), ressaltou, inclusive, que o nome foi pedido por Lula. Por ser um partido da base aliada, Severino Cavalcanti entende que a indicação foi legítima. "O presidente fez o que a consciência dele mandou. Ele fez uma pequena reforma e o que eu tenho de dizer é que aceitei."

Severino também almoçou na casa do deputado José Janene. Os deputados do PP passaram o dia tentando desvincular as declarações de Severino ao recuo na reforma e a exclusão do partido no governo. Coube ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, telefonar para o líder do partido. Dirceu atuou como intermediário nas articulações e buscou o apoio do PP para o chamado governo de coalizão.