Título: Reforma faz Lula abandonar a dieta
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Nacional, p. A7

Agoniado por causa da empacada reforma ministerial, o presidente Lula abandonou a dieta há duas semanas. O resultado não demorou a aparecer: Lula engordou. "Eu me cansei de fazer regime. Sou do tipo sanfona mesmo", resignou-se. Com mais vontade de comer doce, ele não esconde que não tem mais paciência para a chiadeira dos aliados e as brigas internas no PT. Cada vez que tem um aborrecimento, belisca alguma coisa. Aos amigos, tem dito que as viagens são sua única distração. Em reunião do núcleo político do governo, um ministro do PT quis saber como Lula suportava a pressão do PP e PMDB. "Minha pressão está excelente", desconversou. "Não se preocupe porque estou muito tranqüilo." Na quarta-feira, porém, o presidente fez um desabafo. Antes de discursar na cidade gaúcha de Erechim, pediu para o garoto Luan Peterson da Conceição, de 9 anos, cantar Querência Amada. "De vez em quando é preciso distensionar a alma, a cabeça e o coração para a gente ficar mais leve", comentou. "Se eu soubesse cantar, eu viveria cantando, mas sou desafinado."

Lula anda tão aborrecido que não consegue relaxar nem com o futebol, seu hobby desde menino, quando fazia embaixadas nos campos de várzea da Vila Carioca. Há uma semana, promoveu uma partida na Granja do Torto: reuniu ministros e até ex-jogadores como Raí, sensação do São Paulo, e Sócrates e Vladimir - ídolos do Corinthians na década de 80.

Na tentativa de despistar os repórteres - que lhe perguntavam sobre o desfecho da reforma -, o presidente disse que seria o "Demônio de Garanhuns" do time. O que se viu, porém, não foi bem isso.

Fora de forma, Lula só entrou em campo nos dez minutos finais do jogo e não marcou gol. "Ele está magrinho; não tem nada disso não", diz, de São Paulo, o cardiologista Roberto Kalil, que se recusa a revelar quantos quilos engordou seu mais famoso paciente.

SEGREDO

O peso de Lula, aliás, virou um segredo de Estado. Nem seu personal trainer Márcio Rabelo nem os amigos mais íntimos falam sobre o assunto. A reação do presidente, quando um curioso de plantão insiste em provocá-lo, é sempre a mesma: "Você não é minha mulher e não tem nada a ver com isso." Para não engordar ainda mais, porém, o presidente continua recorrendo às caminhadas. Levanta entre 6 e 6h30 e anda religiosamente uma hora.

Quando chove, apela para a esteira. A dois interlocutores contou que tem aproveitado o exercício para ver se clareia as idéias sobre a reforma ministerial.

Com dificuldades para demitir amigos e conhecido por seu coração mole, o presidente ainda não conseguiu concluir a mudança no primeiro escalão. Sempre lembra, por exemplo, quando dispensou Benedita da Silva do Ministério da Assistência e Promoção Social, há pouco mais de um ano, e não conteve as lágrimas. Pior: não sabia o que fazer quando Emília Fernandes, defenestrada da Secretaria Especial de Política para Mulheres, desandou a chorar na sua frente ao saber que perderia o cargo. "Não quero passar por isso de novo", disse.