Título: Lula deixa aliados perplexos ao agir sozinho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - O presidente Lula deixou perplexos seus principais aliados políticos ao decidir sozinho que não faria mais mudanças em sua equipe, cancelando todas as articulações que estavam em curso para montar um governo de coalizão. Por conta dessa decisão, o senador José Sarney (PMDB-AP) e sua filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), acabaram sendo postos de lado pelo presidente. Apesar disso, Sarney procurou amenizar a desfeita ontem, afirmando que foi acertada a decisão de Lula de suspender a reforma ministerial. "Eu fui presidente e sei que, neste momento, as águas estão muito revoltas, a coisa está muito confusa", disse ele.

Na avaliação do ex-presidente, ainda existe a possibilidade de o PMDB ampliar seus espaços no governo. Mas reconheceu que as pressões políticas estavam muito intensas, tornando a situação do presidente desconfortável. "Não é fácil fazer a reforma ministerial nesta situação. O governo de coalizão ainda vem, porque este é o desejo do presidente e do País."

Roseana chegou a anunciar sua disposição de sair do PFL e entrar no PMDB para evitar constrangimentos ao governo em ter de nomear ministra uma integrante de um partido de oposição. O presidente do PT, José Genoino, também exigiu que o diretório do PT do Maranhão rompesse com o governador José Reynaldo Tavares (PTB), com quem tinha aliança, para contemplar Roseana, inimiga política de José Reynaldo.

PREOCUPAÇÃO

Outra preocupação dos aliados de Lula é em relação à própria eficiência da máquina, já que alguns ministérios, como Saúde e Cidades, continuarão com problemas de gestão. O PT também continua insatisfeito com a Coordenação Política, ainda nas mãos do ministro Aldo Rebelo, apesar das divergências com o ministro da Casa Civil, José Dirceu.

À frente das articulações a pedido de Lula, Dirceu precisou, mesmo contrariado, fazer o caminho de volta ontem. Ele já havia acertado com o ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, seu deslocamento para a Saúde. Outro nome fechado era do deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que Lula teria autorizado a ir para as Comunicações no lugar de Eunício Oliveira.

Os deputados do PP avaliam que Ciro só entraria para o governo com a saída de algum ministro do PMDB e Lula se curvou às pressões dos peemedebistas. Tanto que, no vôo de volta para Brasília, o líder do partido, deputado José Janene (PR), alertou o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), de que ele poderia ter complicado a reforma por ter dado um ultimato a Lula. "Você liquidou a reforma", teria dito Janene, segundo deputados que estavam no avião. "O que eu posso fazer?", devolveu Severino.