Título: Desgaste assombra zumbis da Esplanada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - O presidente Lula reabilitou sua autoridade de chefe do Executivo e retomou as rédeas do processo de reforma da equipe, mas não deu garantia de uma segunda vida aos ministros-zumbis da Esplanada dos Ministérios. Embora tenham conservado seus cargos, vários ministros como o da Saúde, Humberto Costa (PT), e o da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B), não conseguiram se ver livres do rótulo de demitidos e, aos olhos dos próprios colegas, permanecem na condição de mortos-vivos. Não é pequena a legião de ministros que perderam força política nos últimos meses pelo fato de participarem, e com freqüência, da lista dos "dispensáveis". A relação inclui, entre outros, o ministro das Cidades, Olívio Dutra (PT), e a do Meio Ambiente, Marina Silva (PT).

Isso sem falar no grupo igualmente extenso dos "fantasmas", aqueles que foram sem nunca terem sido e que agora compõem o chamado "shadow cabinet" (gabinete fantasma). Foi Lula, aliás, quem inventou o gabinete paralelo à moda nacional, quando perdeu a eleição presidencial para Fernando Collor, em 1989, e criou seu próprio ministério.

Quem abre esta segunda lista é a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), que já foi ministra do Planejamento, Comunicações, a Coordenação Política, Integração Nacional, Cidades e até do Meio Ambiente e, ao menos por enquanto, vai ter de se contentar com seu gabinete parlamentar no Senado. Mas também já estiveram praticamente instalados em gabinetes ministeriais na Esplanada os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Jorge Bittar (PT-RJ), Pedro Henry (PP-MT) e Ciro Nogueira (PP-PI).

DUBIEDADE

Feliz com o "resultado positivo" da reforma que não houve, o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), avaliava ontem que qualquer mudança a mais "tensionaria o governo e ampliaria a presença de forças conservadoras". Por isso, aplaudiu a decisão de Lula de restringir as mudanças. Ao mesmo tempo, porém, engrossava o coro dos líderes preocupados com a fragilidade política de alguns ministros sobreviventes e os prejuízos que este enfraquecimento pode criar para a articulação política do governo no Congresso.

Na avaliação de Casagrande, o presidente Lula precisa esclarecer logo a "dubiedade" na coordenação política, definindo claramente a função dos ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e José Dirceu (Casa Civil).