Título: Confinamento e helicóptero antes do voto
Autor: Ana Paula Scinocca , Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Nacional, p. A8

Helicópteros, isolamento num hotel de luxo e deputados desembarcando em fila indiana para votar na Assembléia Legislativa minutos antes da eleição do novo presidente da Casa. Tudo isso - e muito mais - compôs o folclore da eleição do novo presidente da Assembléia paulista, uma novela que não vai entrar para o cenário dos grandes momentos políticos do País. O presidente eleito foi um rebelde de última hora, Rodrigo Garcia (PFL), que até seis dias antes fazia campanha para o adversário. Nos dias subseqüentes, o grupo aliado do governador Geraldo Alckmin acusava o PT de ter montado uma conspiração para derrotar seu candidato e complicar as pretensões presidenciais do governador. Se for candidato a presidente, Alckmin terá de deixar o cargo em abril do ano que vem, entregando o governo ao vice, Cláudio Lembo, que é do PFL ou para o próprio Rodrigo Garcia, que, como presidente da Assembléia, passa a ser o segundo na linha de sucessão paulista.

O candidato de Alckmin, Edson Aparecido, foi lançado para a presidência da Assembléia no dia 17 de fevereiro, em nome dos partidos da base aliada paulista - PSDB (20 deputados), PFL (11), PPS (4) e PTB (10). Pelo trânsito que o governador Alckmin tem na Assembléia, seria fácil conseguir mais três deputados para alcançar a maioria. Aparecido foi logo procurar o PT (23 deputados) e propôs uma Mesa com a participação de todos.

As conversas para um acordo prosseguiram com um grande entrave: o líder do PFL, Rodrigo Garcia, queria o PT fora da Mesa. No dia do lançamento de Aparecido, os líderes dos partidos aliados - além de Garcia, Campos Machado (PTB) e Arnaldo Jardim (PPS) - foram ao governador Alckmin para dizer-lhe que apoiariam o seu candidato. Quem falou em nome dos três foi Garcia.

Os líderes do grupo que apoiava Aparecido fizeram várias reuniões. No dia 2 de março, no Hotel Maksoud, Rodrigo Garcia voltou a protestar contra as tentativas de acordo com o PT, que ele queria fora da Mesa. Decidiu-se que haveria uma lista de apoio a Aparecido, assinada por cada bancada. Campos Machado e Arnaldo Jardim logo trouxeram as suas, mas Rodrigo Garcia demorava para entregar a do PFL.

No dia 9 de março, Garcia reuniu a bancada do PFL e fez uma denúncia: Aparecido tinha feito um acordo com o PT. Não havia acordo algum, mas dois deputados (Afanázio Jazadzi e Edmir Chedid) fizeram discursos inflamados, propondo um rompimento com o PSDB. Garcia saiu da sala e, minutos depois, voltou contando que tinha sido convidado pelo deputado Cândido Vaccarezza, líder do PT, que falava em nome do ministro José Dirceu, para concorrer à presidência.

Apesar da situação insólita, Jazadzi e Chedid se anteciparam e apoiaram, com proposições sobre a "autonomia" e a "valorização" da Assembléia. Naquela mesma noite, Rodrigo Garcia telefonou a Edson Aparecido e disse que era candidato, causando perplexidade entre os antigos aliados. A partir do dia seguinte, centralizou sua campanha em seu próprio escritório, que ele reparte com o vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.