Título: Diária de até R$ 650 garantiu isolamento dos 12 rebeldes
Autor: Ana Paula Scinocca , Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Nacional, p. A8

Um mistério intrigava a Assembléia: os deputados comprometidos com a candidatura de Rodrigo Garcia sumiram de São Paulo na manhã da quinta-feira, 10 de março. Era o começo da operação que iria derrotar os tucanos na Assembléia. Os "rebeldes" só seriam descobertos no sábado, dia 12, isolados no luxuoso Hotel Bourbon, em Atibaia, que cobra de R$ 590 a R$ 650 a diária. Os deputados Cândido Vaccarezza (PT), Rodrigo Garcia (PFL), Valdomiro Lopes (PSB), Edmir Chedid (PFL) e Romeu Tuma Jr. (PMDB) comandavam a operação. Para preservar seus segredos os cinco compraram chips GSM para seus celulares e dos outros líderes "rebeldes", garantindo uma comunicação segura entre eles. A senha era ligar e dizer: "Vou te mandar um e-mail." Em seguida, colocavam os chips e se falavam.

Em helicópteros e carros, eles foram levados para o hotel na manhã de quinta. As reservas foram feitas na quinta, cedo. Esta semana o hotel negou categoricamente que os deputados tivessem se hospedado lá. Todos foram aconselhados a desligar seus celulares, para não dar chance de reversão dos votos conquistados, e ganharam telefones para comunicação local.

No hotel, a ordem era que os deputados ficassem juntos, para impedir abordagens inoportunas. Houve ações de dinâmica de grupo; o consultor Hugo Berti orientava exercícios de estímulo à auto-estima, criando resistências psicológicas a eventuais "ataques inimigos". Nas poucas horas livres, os evangélicos rezavam e os menos religiosos jogavam truco.

Os tucanos tentaram de tudo para contatar os deputados, para reverter seus votos, mas a segurança era rígida a partir do portão de entrada. A mesa telefônica do hotel foi orientada a rechaçar as ligações telefônicas de fora do grupo. No domingo o deputado Padre Afonso Lobato (PV), de Taubaté, forçou a saída do hotel, alegando que ia rezar missa na sua cidade. Foi para o Palácio dos Bandeirantes e converteu-se à causa do governador.

Na terça-feira, todos pagaram suas contas (entre R$ 500 e R$ 800 cada deputado) e saíram do hotel em dois ônibus da Viação Ouro Verde, contratados por R$ 520 cada um, segundo Sérgio Bendilatti, dono da empresa. Edmir Chedid pagou um e Romeu Tuma Jr. pagou o outro. Os "rebeldes" encheram um ônibus apenas; o outro, segundo os coordenadores, era para despistar.