Título: Dirceu articulou plano que tirou PSDB da presidência da Assembléia
Autor: Ana Paula Scinocca , Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Nacional, p. A8

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deu a aprovação final para a minuciosa operação que tiraria do PSDB a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo no dia 9 de março, durante reunião em Brasília com os deputados estaduais petistas Cândido Vaccarezza e Fausto Figueira. Na volta, no aeroporto de Brasília - que estava fechado na ocasião -, encontraram o chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin, Arnaldo Madeira. Com ironia, os petistas avisaram: "Vocês vão ter problemas na Assembléia". Madeira não acreditou.

No mesmo dia, em São Paulo, o até então líder do PT na Casa, Vaccarezza se reuniu com a bancada do PFL e mais dois deputados do PC do B para finalizar a montagem do esquema, que já estava planejado há três meses, mas só ganhou o personagem principal - o pefelista Rodrigo Garcia, que aceitou concorrer contra o governo que apoiava até a véspera - nos primeiros dias de março.

Em dezembro, quando a estratégia para enfrentar e desgastar Alckmin na disputa pela Mesa foi desenhada, os petistas elegeram duas "iscas" que eles tentariam atrair nos meses seguintes. Ambos eram líderes de seus partidos e tinham bancadas numerosas e obedientes - um era Campos Machado, do PTB (10 deputados), e outro era Rodrigo Garcia, do PFL (11 deputados). Conquistando um dos dois, planejavam os petistas, a chance de ganhar a Mesa da Assembléia paulista seria grande.

O risco de sustentar a estratégia de enfrentamento com o PSDB era grande para seu coordenador-mor da operação em São Paulo, o líder petista Cândido Vaccarezza. Logo que foi indicado por seu partido, Edson Aparecido procurou Vaccarezza e lhe ofereceu um acordo, segundo o qual o PT ficaria com a 1.ª Secretaria da Mesa, que o partido ocupa há tempos.

Essa oferta sensibilizou a maior parte da bancada petista, que passou a defender um acordo com o PSDB e seus aliados, confirmou agora uma fonte da legenda. Arriscar a estratégia de desbancar o candidato de Alckmin poderia significar a perda da 1.ª Secretaria, o que acarretaria também perder os quase cem cargos de comissão que ela preenche.

Vaccarezza nega a participação de José Dirceu ou de qualquer outro ministro na articulação para tomar a Mesa da Assembléia. "Não pedi aval para Dirceu nem para qualquer outro membro do governo federal. A única pessoa de fora da Assembléia com quem falei sobre o assunto foi o presidente nacional do meu partido (José Genoino)", admitiu. Mas confirma que foi a Brasília no dia 8 e encontrou Madeira no aeroporto, na manhã seguinte.

Vários deputados consultados pelo Estado atestaram, no entanto, que o principal assessor do ministro Dirceu em São Paulo, Roberto Marques, funcionário da Casa, foi presença muito ativa na Assembléia Legislativa no último mês. Segundo esses deputados, antes do episódio da eleição da Mesa, Marques circulava com muita discrição na Assembléia e era pouco visto nos corredores.