Título: PF apura desvio de remédios para Farc
Autor: Liege Albuquerque
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A11

MANAUS - A Superintendência da Polícia Federal do Amazonas está investigando, desde novembro passado, um desvio do medicamento glucantime (usado no tratamento da leishmaniose). A PF suspeita que funcionários da Secretaria de Saúde do Estado estejam envolvidos e que o medicamento estivesse sendo desviado para a Colômbia, por ter sido encontrado em um barco à deriva na fronteira dos dois países, em um rio do município de São Gabriel da Cachoeira. De acordo com a superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Graça Malheiros, o inquérito em andamento já ouviu os funcionários e está investigando o possível destino do material apreendido no barco, provavelmente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

"Como o medicamento não é vendido, as 2.768 ampolas encontradas certamente foram desviadas pelos funcionários da secretaria, que é responsável pelo encaminhamento do medicamento enviado pelo Ministério da Saúde. A rota e o destino do desvio, contudo, já estavam sendo investigados antes da apreensão do barco", disse ela.

MUNIÇÃO

De acordo com a superintendente da PF, ribeirinhos da região de São Gabriel encontraram, depois de uma tempestade, um barco à deriva, no fim de outubro do ano passado. No barco havia o medicamento, um isopor com dinheiro (cujo valor não foi encaminhado à PF) e munição. Eram 5,7 mil cartuchos para escopetas calibre 22 e 9,7 mil para as de calibre 12 e 16.

Por conta da munição, a PF acredita que o medicamento estivesse destinado às Farc. "A munição nos fez acreditar nisso, já que a leishmaniose é uma doença comum naquela região do Amazonas", disse ela.

O barco não tinha nome, segundo a superintendente da PF. Embora os ribeirinhos tenham dito que três homens estavam no barco e que um deles teria morrido na tempestade, não se sabe ainda a nacionalidade deles.

O secretário de Saúde do Estado, Wilson Alecrim, afirmou que a própria secretaria encaminhou ao Ministério da Saúde, em janeiro deste ano, o relatório que foi também encaminhado à Polícia Federal, com o resultado da sindicância interna. "O desvio foi feito no âmbito da secretaria, não do ministério", afirmou ele.

Segundo Alecrim, foi apurado que 5.300 ampolas foram desviadas por quatro pessoas da secretaria. "O número de ampolas é bem maior do que o encontrado no barco em São Gabriel e a PF está investigando para onde foi o resto." O secretário não quis divulgar o nome dos dois funcionários envolvidos. Afirmou, contudo, que um deles, com contrato temporário, foi demitido e o outro está afastado e investigado pela PF e em um inquérito administrativo da secretaria.

Os outros dois responsáveis pelo desvio eram vigilantes da secretaria, de uma empresa terceirizada, também já afastados.