Título: Cai a aprovação do governo de Lula
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Nacional, p. A12

A avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva piorou. Entre novembro de 2004 e março deste ano, seu índice de aprovação apresentou queda de 62% para 58%, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem. Trata-se de uma variação relevante, considerando que a margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos porcentuais. No caso da imagem pessoal do presidente houve mais estabilidade. Diante da pergunta "o senhor confia ou não confia no presidente Lula", 60% responderam positivamente. Em novembro, o índice tinha sido 63%.

Os números da pesquisa, a primeira da CNI/Ibope divulgada neste ano e a nona desde a posse de Lula, em janeiro de 2003, indicam a interrupção de um movimento crescente de aprovação do governo e da imagem do presidente. Desde junho do ano passado, o presidente vinha festejando resultados cada vez mais positivos nas pesquisas.

DESENCANTO

De acordo com especialistas, não é fácil definir com precisão as causas da mudança. No entanto, o diretor de Operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marco Antonio Guarita, acredita que há uma relação entre a queda no índice de aprovação e a piora nas expectativas dos entrevistados em relação aos índices econômicos. O desencanto aumentou.

O melhor exemplo aparece na questão do emprego. Em novembro, 43% dos entrevistados pelo CNI/Ibope acreditavam que a taxa de desemprego no País aumentaria nos seis meses seguintes. Hoje o índice chega a 52%. Foi uma variação de 9 pontos porcentuais, qualificada no texto de apresentação da pesquisa como "forte inflexão".

Para onde quer que se apontem os indicadores, há menos esperança. No levantamento atual, 54% disseram acreditar que a inflação vai aumentar e 11% que vai diminuir. Na rodada anterior, os porcentuais eram 52% e 13%. Também há descontentamento em relação às taxas de juros e ao volume de impostos.

Nesta pesquisa foram ouvidas 2.002 eleitores em 143 municípios, entre os dias 10 e 14 de março. Indagados sobre qual deveria ser a principal tarefa do governo, 50% dos entrevistados apontaram o crescimento do País e do nível de emprego. Em segundo lugar, com 26%, apareceu a melhoria dos salários; e em terceiro, com 12% das indicações, o controle da inflação.

PATAMAR ELEVADO

De maneira geral, a avaliação do governo ainda se mantém num patamar elevado. Na primeira rodada CNI/Ibope sobre este tema, em junho de 2003, o porcentual dos que o avaliavam como ótimo e bom era de 43%. Foi o índice mais alto em dois anos e três meses de governo. O mais baixo foi registrado em junho do ano passado, quando desceu a 29%. Na rodada atual, o porcentual dos que o definiram como ótimo estacionou em 39% - uma variação de pouco significado em relação aos 41% de novembro. "Neste item, a oscilação ocorreu dentro da margem de erro, deixando um quadro de estabilidade", diz o texto da pesquisa.

Na comparação entre o governo atual e o anterior, a diferença a favor de Lula continuou a se ampliar. Em novembro, 49% disseram que este governo é melhor que o de Fernando Henrique Cardoso. Agora foram 52%.

Quando se pediu aos entrevistados que apontassem em que áreas o governo está obtendo melhores resultados, responderam: no combate à fome (35%), na educação (21%) e na redução do desemprego (17%). Houve uma variação significativa, em relação à pesquisa de novembro, na área da educação. Naquela rodada, os que elogiaram as ações na educação foram 15%.

O desencanto em relação ao que o governo faz no combate à fome e à pobreza ficou mais visível. Apesar de as referências a estas ações ainda aparecerem em primeiro lugar, são menores do que em novembro. Naquele mês 42% elogiaram o que o governo vinha fazendo.

DESCONTENTAMENTO

No item da pesquisa em que se pergunta sobre as áreas em que o governo teve os piores desempenhos, foram citados: combate ao desemprego (30%), combate à violência (30%), ações na área da saúde (25%) e combate à fome (13%). Observou-se, na comparação com pesquisas anteriores, que o descontentamento na área da saúde mostra um movimento ascendente desde dezembro de 2003. Naquele mês, 16% disseram que o governo tem agido mal nesta área.

"Na Região Sudeste, nas capitais e no grupo de maior escolaridade, a saúde passou de terceiro para o primeiro lugar na lista de piores resultados, superando os temas de segurança e desemprego", afirmam os responsáveis pela pesquisa. "A opinião negativa sobre saúde chega a 34% no segmento de instrução universitária, contra 22% registrados no estudo anterior, em novembro."