Título: Renda é a pior para janeiro desde 1985
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B1

Queda, pelo 3.º mês seguido, foi de 1,6% sobre dezembro e de 4,9% em 12 meses

Pelo terceiro mês seguido, o rendimento médio real do trabalhador na Região Metropolitana de São Paulo caiu em janeiro, desta vez 1,6%, para R$ 1.006. É o nível mais baixo registrado num mês de janeiro desde 1985, quando teve início a pesquisa SeadeDieese. Os dados referentes à renda têm um mês de defasagem em relação aos do emprego (fevereiro). Na comparação com janeiro do ano passado, quando essa média correspondia a R$ 1.058, a queda nos rendimentos do trabalho chega a 4,9%.

Para o diretortécnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, esse número reflete principalmente o fato de que as ocupações criadas na região são de baixa remuneração. O fenômeno é agravado pelo aumento da rotatividade no trabalho, com demissões entre os salários mais altos e contratações por salários mais baixos.

Segundo o Dieese, o índice médio de rotatividade nas empresas paulistas é de 33%, mas em algumas regiões já chega a 60%. 'A cada ano, um terço da força de trabalho do Estado é substituída. O problema é que a maioria entra ganhando menos do que os que saíram', observa Lúcio.

A precarização é tamanha que a massa de rendimentos dos ocupados (soma de todos os rendimentos do trabalho), principal indicador da capacidade de consumo de uma região, teve queda de 0,9% em relação a janeiro de 2004, apesar do crescimento do nível de emprego.

Nos últimos 12 meses, foram criados 380 mil empregos, o equivalente a mais que a população inteira de uma cidade como Diadema (376 mil habitantes), na própria região metropolitana. Na comparação com dezembro de 2004, a massa de rendimentos encolheu 2,3%.

O gerente de Pesquisas da Fundação Seade, Alexandre Loloian, ressalta que a recuperação do poder de compra dos trabalhadores depende da continuidade da recuperação da economia. Para ele, o emprego deve continuar crescendo em 2005, mas numa intensidade menor do que a registrada no ano passado. 'Em 2004, o PIB cresceu 5,2%, a economia paulista teve expansão de 7% e o emprego nesta região metropolitana cresceu 4,9%. Para este ano, estima-se que a economia vá crescer 3,5%'.

Um dado positivo mostrado pela pesquisa de emprego e desemprego, segundo ele, é o fato de as indústrias terem ampliado o número de assalariados com carteira de trabalho assinada, apesar da redução de 35 mil ocupações em fevereiro.

'O setor fechou postos sem carteira assinada e de trabalho autônomo, mas formalizou parte dos temporários. Isso mostra que as empresas apostam na continuidade do crescimento nos próximos meses', diz Loloian.