Título: Após 9 meses de queda, desemprego volta a subir na Grande São Paulo
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B1

O desemprego na Região Metropolitana de São Paulo voltou a subir em fevereiro, depois de nove meses consecutivos em queda. Pesquisa divulgada ontem pelo convênio entre a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que a taxa subiu de 16,7% da População Economicamente Ativa (PEA), em janeiro, para 17,1%, no mês passado. Isso indica que havia 1,687 milhão de pessoas sem ocupação em fevereiro, 28 mil a mais do que no mês anterior. Na avaliação dos responsáveis pela pesquisa, o aumento do desemprego no início do ano é normal, já que as empresas costumam dispensar nesse período os trabalhadores temporários contratados para reforçar as equipes de produção e vendas para o Natal.

"Isto é sazonal", diz o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. "Nos meses de janeiro, fevereiro e março sempre ocorre uma queima pesada de postos de trabalho, que depois são recuperados a partir de maio. Por enquanto, não dá para fazer uma associação com a alta dos juros."

O desemprego cresceu em fevereiro porque foram fechados 94 mil postos de trabalho, número superior ao de pessoas que saíram do mercado, estimado em 66 mil. O setor que mais cortou foi o de serviços, que demitiu 50 mil pessoas. O comércio fechou outras 40 mil e a indústria reduziu 35 mil postos. Os únicos a contratar foram os "outros serviços" (inclui construção civil e serviços domésticos), que abriram 31 mil vagas em fevereiro.

PROCURA

Ontem, a advogada recém-formada Michelle Salazar levantou cedo, passou na casa do pai e pediu que ele cuidasse do filho de nove meses. Em mais um dia em busca de emprego, visitou o Centro de Solidariedade da Força Sindical, onde diariamente mais de 2 mil pessoas procuram trabalho. Michelle foi entrevistada para uma vaga em telemarketing, com salários de R$ 325 por mês. "É menos do que eu pagava por mês na faculdade, mas foi a única oportunidade que encontrei até agora", disse ela, que está desempregada desde 2002.

No mês passado, a taxa de desemprego aumentou para a maioria dos segmentos analisados, atingindo principalmente pessoas com ensino superior completo (10,1%), ensino médio completo ou superior incompleto (8,6%), jovens de 18 a 24 anos (5,1%), chefes de domicílio (3,2%) e mulheres (3,1%). Houve diminuição apenas para analfabetos ou com ensino fundamental incompleto (3,4%) e pessoas de 40 anos e mais (1%). "Como as exigências das empresas aumentaram, quem não tem escolaridade pára de procurar emprego", explica o coordenador de Análise da Fundação Seade, Alexandre Loloian.