Título: Quebra da safra é a maior da história
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B3

BRASÍLIA-A agricultura brasileira terá, este ano, a maior frustração de colheita de sua história. Deixarão de ser produzidos 12,4 milhões de toneladas, por causa da seca que assola o Sul e o Centro do País. O fenômeno climático, cuja intensidade não havia sido prevista por nenhum instituto de meteorologia, afetou Estados que concentram 60% da produção nacional de grãos. A segunda maior quebra de safra foi em 2003/04, com perda de 10,4 milhões de toneladas. A previsão inicial era de colheita de 129,6 milhões de toneladas e caiu, por conta da ferrugem asiática, para 119,2 milhões de toneladas. O estrago é irreversível, segundo o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Jacinto Ferreira. A perda poderá ser ainda maior se a seca persistir e prejudicar a segunda safra de milho, que começa a ser plantada nesta época do ano. O produto mais afetado até agora é a soja, carro-chefe da balança comercial brasileira. Os produtores terão uma perda de receita de R$ 5,4 bilhões.

O presidente da Conab descartou, porém, o risco de desabastecimento ou de alta nos preços. "Continuo afirmando que não há risco de falta de alimentos ou de impacto inflacionário", disse. "Apesar da quebra, a previsão é de colheita maior do que no ano passado." Ele afirmou que se houver necessidade, o governo poderá agir de forma pontual para garantir o abastecimento. No caso do milho, a segunda cultura mais afetada, ele informou que a Conab poderá oferecer 2 milhões de toneladas que tem em estoque.

0s dados divulgados ontem pela Conab são resultado de um levantamento extraordinário feito para dimensionar melhor os estragos da seca. Entre 14 e 18 de março, técnicos da Conab estiveram nos Estados do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás, os mais castigados.

Com base no novo levantamento, a estimativa de uma colheita de 131,9 milhões de toneladas feita em dezembro foi cortada para 119,5 milhões. Em fevereiro, a safra já havia sido projetada em 124,9 milhões de toneladas. Ainda assim, é uma colheita maior do que a safra anterior, que foi de 119,152 milhões de toneladas.

SOJA

A soja lidera a lista de culturas mais prejudicadas pela seca. A Conab estimou que a produção na safra 2004/2005 será de 53,119 milhões de toneladas, 8,281 milhões abaixo da previsão de dezembro, que indicava colheita de 61,4 milhões de toneladas. Em outubro, quando divulgou a intenção para plantio na safra atual, o governo havia estimado a produção de soja em algo entre 59,518 e 60,808 milhões de toneladas. Na safra 2003/2004, os produtores colheram 49,770 milhões de toneladas de soja.

Ferreira disse que praticamente todos os Estados produtores de soja foram prejudicados pela estiagem. As exceções foram Mato Grosso, Piauí, Minas Gerais e Bahia. A produção nesses Estados pode compensar parte da quebra de produção da oleaginosa.

"As chuvas estão começando, mas as perdas são irreversíveis para algumas culturas", ressaltou. Ele disse que o governo está atento à situação dos agricultores e que se for necessário poderão ser adotadas medidas adicionais de apoio.

O milho foi a segunda cultura mais prejudicada pela seca que castigou as lavouras, mostra o levantamento.

A colheita de milho deve somar 39,039 milhões de toneladas, contra 42,191 milhões em 2003/2004. De acordo com o presidente da Conab, a quebra nacional em relação ao estimado em dezembro é de 10%, ou 3,16 milhões de toneladas. "A maior redução na produção aconteceu no Rio Grande do Sul, com 55%, ou 2,7 milhões de toneladas", comentou.