Título: No PI, o exemplo. Em SP, o improviso
Autor: Luciano Coelho, Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Vida &, p. A21

A prefeitura de Bom Jesus, a 605 quilômetros de Teresina, o mais promissor produtor de soja do Piauí, está pagando para que as crianças do ensino fundamental estudem. O objetivo é reduzir a evasão escolar e a repetência. Segundo o vice-prefeito e secretário municipal de Educação, Fábio Nunez Novo, será criada uma bolsa-poupança para as crianças que passarem de ano, sem recuperação. O secretário de Educação indica que a evasão escolar está muito alta, representando cerca de 37% das matrículas. Além disso, serão contratados jovens para dar aulas de reforço escolar a estas crianças. "Nós estamos gerando emprego e renda para as famílias do município. Empregamos 37 famílias confeccionando material escolar e uniforme para as crianças do ensino fundamental. Distribuímos 4 mil kits escolares", completa Novo.

O projeto de bolsa-poupança está sendo instalado agora. A prefeitura, em parceria com instituições privadas, vai depositar a cada ano R$ 50 para cada aluno que passar de ano. Ao final de quatro anos, quando terminar o ensino fundamental de 1.ª a 4.ª séries, ele poderá sacar o valor da poupança.

A prefeitura registra uma média de 4 mil matrículas por ano. Somente os alunos de 1.ª a 4.ª séries somam 1,9 mil. É exatamente nesta faixa que se identificou o maior índice de repetência e evasão.

"Estamos buscando alocar recursos para financiar os projetos e atender melhor os alunos do ensino fundamental. Queremos, por exemplo, pagar o abono de férias dos professores antecipadamente, para estimulá-los também. Além disso, estamos fazendo o transporte escolar urbano levando e trazendo os alunos em casa. Contamos com o financiamento do Fundef (fundo semelhante só para o ensino fundamental), que dobra no final do ano. Nossa cota normalmente é de R$ 140 mil e esperamos receber R$ 220 mil. Com isso poderemos custear projetos", assinala Fábio Nunez Novo.

Bom Jesus também investe na recuperação de escolas e na distribuição de kits escolares (com camiseta, caderno, lápis, borracha, lápis de cor e mochila) para crianças e adulto matriculados, já que também incentivam a educação de jovens e adultos.

SEM ESTRUTURA

Enquanto Bom Jesus tenta manter as crianças na sala de aula, no interior de São Paulo duas escolas lutam contra a falta de estrutura e deixam crianças estudar no pátio. Cerca de cem crianças do ensino infantil estão tendo aulas fora da sala em duas escolas municipais de São José do Rio Preto, a 440 quilômetros de São Paulo.

A falta de estrutura para atender ao aumento da demanda no ensino infantil faz com que os professores transformem bancos e mesas de merenda em carteiras escolares e as paredes, em quadros negros. O problema ocorre nas escolas municipais de educação infantil e fundamental Vera, no distrito de Engenheiro Schmidt, e Norberto Buzzini, no Jardim Yolanda. Na primeira, são atingidas 48 crianças da pré-escola, dividas em duas classes, uma de manhã e outra à tarde. Na Norberto Buzzini, são 50 crianças do maternal, também em duas classes, uma em cada período.

A secretária da Educação de Rio Preto, Maria do Rosário Laguna, diz que os pátios são cobertos, ventilados e com duas laterais fechadas. Por isso, afirma, não representam perigo pedagógico para as crianças que lá assistem às aulas. Ela lembra que o município não tem obrigação de atender alunos do ensino infantil, mas optou por recebê-los mesmo sem ter estrutura para todos. "Preferimos assim, porque não há qualquer prejuízo para eles", declara.

O problema é mais acentuado no bairro de Schmidt porque não há previsão para construção de salas. Na escola do Jardim Yolanda, a casa da zeladoria, que estava desativada, está sendo reformada para abrigar uma sala de aula. "Até a semana que vem, as reformas estarão concluídas e o problema, resolvido", afirma a secretária. Em Schmidt, a situação é diferente. "A prefeitura ainda terá de encontrar terreno e separar verbas para construir a nova escola", diz. Até lá, segue o improviso.