Título: Wolfowitz deve assumir direção do Bird no dia 31
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B6

Paul Wolfowitz, o controvertido vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos e principal ideólogo da invasão e ocupação do Iraque, será eleito presidente do Banco Mundial no dia 31, sem objeções, previram ontem diretores executivos da instituição e outras pessoas familiarizadas com o processo de consultas iniciado na semana passada, depois que o presidente George W.Bush oficializou sua candidatura. As dúvidas que ainda possam existir sobre as qualificações de Wolfowitz serão discutidas amanhã, durante reunião que ele terá com os 24 diretores-executivos do banco. Confirmado no posto, Wolfowitz renunciará imediatamente a seu cargo no Pentágono e iniciará as tarefas de transição até tomar posse, no dia 1.º de junho, assumindo o lugar ocupado nos últimos dez anos pelo australiano naturalizado americano James Wolfensohn.

Em campanha, o futuro presidente do Bird já se reuniu com vários diretores executivos. Sextafeira, teve um encontro com os representantes do Japão, Austrália, China, Nova Zelândia e Coréia do Sul. Na segunda-feira, conversou durante hora e meia com os representantes de 12 países em desenvolvimento, num encontro coordenado pelo diretor do Brasil no Bird, Otaviano Canuto.

Durante o encontro, o Wolfowitz definiu-se como 'pragmático', e disse que dará atenção 'a todas as prioridades do banco, e não apenas a algumas'. Bem preparado para o encontro, ele disse aos diretores o que eles queriam ouvir. Procurou exibir suas credenciais para o cargo falando dos conhecimentos adquiridos sobre pobreza e desenvolvimento como embaixador dos EUA na Indonésia, nos anos 80. Mas reconheceu que precisa aprender mais, dizendo que 'quero também ouvir'.

Mostrou-se sensível ao sofrimento humano, falando sobre a emoção que sentiu durante viagem para inspecionar os países asiáticos atingidos pelos tsunamis. Ex-assessor de Bill Clinton acha que Wolfowitz é o homem certo para o cargo Sabedor que governos de países em desenvolvimento fazem objeções à interferência das organizações não-governamentais nos assuntos do banco, que aumentou substancialmente na gestão de Wolfensohn, bem como à representatividade desses grupos, Wolfowitz disse que considera o papel das ONGs importante. Mas disse que é 'há ONGs e ONGs', e é preciso saber diferenciar entre elas e trabalhar com as genuínas. Respondendo à preocupação dos diretores com a reorientação do financiamento do banco para programas de política econômica e governança em detrimento dos programas tradicionais de desenvolvimento, o futuro chefe do Bird disse que os projetos de infra-estrutura são fundamentais. Hoje, Wolfowitz estará com os ministros da Cooperação de vários países europeus. Eles virão a Washington para manifestar sua apreensão com a possibilidade de o vice-secretário da Defesa condicionar o apoio do Bird ao desenvolvimento e à redução da pobreza a projetos de democratização, impondo ao banco uma linha-mestra da diplomacia americana. APOIO Em artigo no The New York Times, James Rubin, secretário adjunto de Estado no governo Clinton e assessor do candidato democrata John Kerry na eleição presidencial de 2004, fez um paralelo entre as indicações do 'linha dura' John Bolton como embaixador americano na ONU e de Wolfowitz para o Bird. Segundo Rubin, 'há uma importante diferença entre eles'. 'Bolton parece rejeitar a própria existência da ONU, enquanto Wolfowitz apóia a idéia de que os países ricos devem usar seus recursos para promover a democracia e a prosperidade no mundo. O próprio Wolfowitz afirmou que a missão do Banco Mundial de reduzir a pobreza é um dos maiores desafios morais do nosso tempo. Ele é a pessoa certa para executar essa tarefa crucial no governo Bush'