Título: No fim da reunião, troca de propostas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B11

BRUXELAS- Ao se recusar a tratar das ofertas de liberalização, o Mercosul preferiu entregar um documento com cinco princípios que deveriam ser seguidos nas negociações com a Europa. Bruxelas aceitou e entregou seus próprios parâmetros, mas deixou claro que esse caminho não levaria a avanços. Um dos princípios defendidos pelo Brasil é o de respeitar o fato de o bloco ser menos desenvolvido do que a Europa, o que teria de se refletir nas ofertas de liberalização. A UE garante que esse princípio está sendo aplicado e que, no geral, os ganhos para o Mercosul serão de US$ 3 bilhões contra benefícios de US$ 1,7 bilhão para a Europa. Baseado em dados do IPEA, o Brasil estima que os benefícios seriam de US$ 700 milhões, dos quais US$ 400 milhões só no setor do etanol.

Bruxelas ainda alega que incluiu todos seus produtos industriais na desgravacão tarifária. A idéia do Mercosul inclui de 77% a 87% de seus produtos industriais, com ritmo mais lento. Bruxelas também argumenta que, mesmo no setor agrícola, a oferta de abertura do Mercosul é inferior à da Europa, pois não inclui a eliminação de tarifas para alguns produtos transformados.

Sobre as cotas impostas sobre produtos agrícolas como carnes e açúcar, a UE alega que é só 5% do valor do comércio com o Mercosul e que seria impossível realizar uma abertura nesses setores sem limites quantitativos.

Nas contas do Brasil, o acordo com as condições apresentadas congelaria as exportações nacionais para o mercado europeu em apenas três anos. A Europa indica que não pode aceitar o princípio, pois teria de reduzir seu grau de abertura se não puder contar com algumas restrições.

Ao fim da reunião, os europeus entregaram sua lista de princípios, mas não sem críticas. 'São elementos que já conhecemos há três anos. Não é isso que fará avançar a negociação', disse Karl Falkenberg, negociador-chefe da UE.

Para o embaixador Regis Arslanian, que liderou a delegação brasileira, essa é uma forma de evitar obstáculos e perder tempo com propostas que não serão aceitas.

A lista européia aponta que um produto da UE deve receber garantias de que pode circular livremente entre os países do Mercosul. E ainda pedem maior proteção às indicações geográficas de produtos e um maior combate à pirataria. Aí, é o Brasil quem acredita que não haverá espaço para uma negociação de regras rígidas para conter a pirataria em um acordo bilateral.