Título: Indústria alerta para danos da pilha pirata
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2005, Economia, p. B18

Sem cumprir lei ambiental, produto ilegal anula o esforço das empresas em reduzir metais pesados

Para a indústria brasileira de eletroeletrônicos, ainda é cedo para se pensar em responsabilidade pós-consumo no caso de produtos como eletrodomésticos, já que não existem dispositivos legais para isso. A indústria segue a tendência do ecodesign, que usa menos matéria-prima e tem maior facilidade de reciclagem no final da vida útil do eletrodoméstico. O quadro é diferente nos países europeus, onde duas diretivas da Comunidade Européia responsabilizam progressivamente a indústria quanto ao destino da sucata dos equipamentos elétricos e eletrônicos. Restringe ainda o uso de substâncias consideradas perigosas na fabricação de componentes.

Os fabricantes de pilhas e baterias, únicos itens para os quais há regulamentação específica, foram obrigados a reduzir os teores de metais pesados e esclarecer a população sobre as condições de descarte. As pilhas comuns, de zinco/manganês, e alcalinas, usadas em lanternas, brinquedos, câmeras fotográficas e equipamentos portáveis, podem ir para o lixo comum.

'Houve redução dos teores de metais pesados além do recomendado pelo Conama', afirma Jaime Cynamon, diretor de meio ambiente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Mercúrio e o cádmio, por exemplo, foram eliminados da pilhas comuns.

O problema, segundo Cynamon, é a concorrência desleal da pirataria, que, além de perda de arrecadação, traz um sério problema ambiental. O setor formal coloca anualmente 800 milhões de pilhas domésticas no mercado. Paralelamente, a informalidade despeja mais 400 milhões de unidades.

Com apenas 15% da carga energética de uma pilha convencional, as piratas têm um agravante: 80 miligramas de mercúrio, substância potencialmente causadora de doenças degenerativas. 'Ao longo de um ano, são 32 toneladas de mercúrio contaminando o ambiente e causando envenenamento da população', afirma Cynamon.

O combate às pilhas piratas, assim como a gestão dos resíduos, deve ser compartilhada entre as empresas e o poder público, na avaliação da Abinee, que participa das reuniões técnicas para formulação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. 'A morosidade na formulação da política causa um grande desconforto à indústria', diz Cynamon.