Título: No campo, o comércio põe o pé atrás
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Economia e Negócios, p. B1

Com queda da receita da soja, em algumas lojas vendas de máquinas agrícolas chegaram a cair 50% ante o mesmo período de 2004

O comércio das cidades do interior do País já começou a sentir a queda na receita agrícola no movimento de vendas tanto de móveis, eletrodomésticos e picapes como de tratores e colheitadeiras. Em Lucas do Rio Verde, ao norte de Cuiabá (MT), uma das primeiras regiões onde se colhe soja no País, a loja da Citylar, especializada em móveis e eletrodomésticos registrou na primeira quinzena deste mês queda de 40% nas vendas em relação a igual período do ano passado, conta o gerente da loja Cleiton Berger. "Em janeiro, a queda nas vendas foi camuflada pelos resquícios do 13.º salário", diz o gerente. A rede, que tem cem lojas espalhadas por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima, teve de encontrar uma solução para se adequar à nova realidade do mercado. Berger conta, por exemplo, que reduziu em 20% o número de funcionários neste mês. No ano passado, quando o cenário agrícola era exuberante, a loja manteve as contratações temporárias do Natal.

"A queda no preço da soja deixou todo mundo com o pé atrás", diz Antonio Gazin, diretor comercial da rede de lojas Gazin, especializada em móveis e eletrodomésticos, com 104 pontos-de-venda em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia e Acre. Ele conta que a expectativa era ter ampliado em 24% as vendas em janeiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, levando-se em conta as mesmas lojas, mas a meta não foi alcançada.

Na Agrosul, revenda de máquinas da marca John Deere na região de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, as vendas de colheitadeiras de soja caíram pela metade neste início de ano. Essas máquinas custam cerca de R$ 400 mil. "Estamos parcelando e dando desconto, de acordo com a necessidade do cliente", diz o gerente da empresa, Vilson Kublik.

Na Guimarães Agrícola, revenda da Massey em Lucas do Rio Verde (MT), as vendas de colheitadeiras caíram pela metade e há cancelamento de negócios fechados, diz o diretor da empresa Orcival Guimarães. "Estou disposto até vender abaixo do preço de custo para reduzir o estoque." Com 250 funcionários em 7 revendas da região, o empresário avalia a hipótese de reduzir o número de funcionários.

"A crise está a caminho", resume Rodrigo Sampaio, gerente da Conviza, revenda Ford em Barreiras (BA). A venda de picapes, por exemplo, que o agricultor troca todo o ano, caiu entre 20% e 25% neste mês, na comparação com igual período de 2004. "Estamos evitando fazer contratos atrelados à soja."