Título: Custos sobem e lucro vira exceção
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Economia e Negócios, p. B1

Pela primeira vez em anos recentes, a queda de receita no campo é generalizada entre os produtos da safra de verão

Pela primeira vez em anos recentes, a queda na receita é generalizada entre os produtos da safra de verão (algodão, arroz, feijão, milho e soja). Diante da elevação de custos, isso significa que boa parte desses agricultores deve ter prejuízo, exceto quem não se endividou e investiu para aumentar a produtividade. Um levantamento feito pela consultoria MB Associados nas regiões produtoras mais importantes para cada lavoura no País revela que, de 8 áreas pesquisadas, os agricultores estão no prejuízo em 6 delas. A única região em que o produtor ainda se mantém no azul é em Londrina (PR). A rentabilidade da soja na região é de 13% do preço em relação ao custo operacional. Na safra passada, esse indicador estava em 80%.

O economista responsável pelo estudo, Glauco Carvalho, diz que neste caso, a proximidade do Porto de Paranaguá e a melhor infra-estrutura para o escoamento do produto compensam, de certa forma, a queda de preços. "Londrina é a nata da produção de soja", afirma. Apesar do melhor desempenho da soja em Londrina ante as demais, o economista ressalta que esse é o menor índice de rentabilidade alcançado pelo produto desde 1999 na região.

Carvalho observa que o problema para o agricultor não é o fato de a receita ser baixa, desde que a rentabilidade seja boa. Acontece que, neste ano, com a elevação dos custos, os dois indicadores recuaram, o que é um sinal de descapitalização do campo.

CUSTOS

Em dezembro de 2003, o agricultor precisava de 13,7 sacas de soja para comprar uma tonelada de adubo. Em dezembro passado, eram necessárias 23,4 sacas para adquirir a mesma tonelada. "A subida de custos ocorreu não só para a soja, como para o algodão e o milho", diz Fábio Silveira, da MSConsult. Ele ressalta que a pressão do petróleo na cadeia dos itens nitrogenados derivados da nafta puxou as cotações do fertilizante.

Os preços da soja e de outros grãos, em reais, despencaram. No início deste ano, a cotação do algodão em pluma caiu 39% em reais; do arroz, 31%; da soja, 30% e do milho, 13% na comparação com o mesmo período de 2004. Silveira ressalta, no entanto, que, em dólar, a cotação da soja, voltou este ano para o patamar histórico de US$ 10 a saca. Em 2003 e 2004 a situação foi atípica. Diante do recuo da receita, uma alta expressiva da produção para 2006 irá depender de maior participação do governo no financiamento da safra, prevê o economista. M.C.