Título: Lembranças em poucos livros e na voz de Elis
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2005, Economia, p. B9

Muito pouco foi escrito sobre a história da Panair, mas ex-funcionários recordam os bons tempos da empresa

Para as gerações que têm menos de 40 anos, a Panair se mantém viva apenas nas asas de Elis Regina, que imortalizou a canção Conversando no Bar, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Pouco se escreveu sobre aquele que é um dos mais espantosos casos de aniquilação de pessoa jurídica na história do capitalismo nacional. "O patrimônio foi todo violado, roubado, destruído, porque os militares não gostavam dos acionistas", escreve o ex-ministro da Justiça Saulo Ramos no prefácio do livro de Daniel Sasaki, "Pouso Forçado: a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar".

Como se não bastasse o fato de os militares não gostarem dos acionistas da Panair, a medida foi deliberada para beneficiar a Varig. "Os militares desejavam beneficiar o concorrente Ruben Berta, que claramente corrompeu os brigadeiros encarregados da execução do contrato de concessão de linhas aéreas", escreve Ramos no prefácio. "Ruben Berta fora informado antes do Diário Oficial."

Além do livro de Sasaki, que permanece inédito, há o "Nas Asas da História", um nostálgico apanhado fotográfico lançado em 1996 pela editora Agir. Documentário do cineasta Marco Altberg e sua mulher Maisa Rocha Miranda, sobrinha de Celso, deve ser lançado no segundo semestre.

Um outro livro, com "causos" da Panair, sem data de publicação, está sendo reunido por membros da "Família Panair". A Família Panair é um grupo de ex-funcionários que se reúne toda última quarta-feira de cada mês, há 40 anos. "Nunca falhamos", garante o comandante Lucas Monteiro de Barros Bastos, que tinha 20 anos de Panair quando a empresa parou de voar. Todo ano, no aniversário da empresa, uns 300 ex-funcionários fazem festa. "A empresa sempre nos tratou como filhos, por isso somos uma família", diz Bastos.

Dentre os casos lembrados nas conversas que deverão ser reunidos no livro, não faltam histórias do vôo que trouxe a seleção campeã na Suécia em 1958, ou do príncipe d. João de Orleans e Bragança, que começou piloto e se tornou vice-presidente da empresa.

A família Panair tampouco se esquece dos tempos em que a Amazônia foi desbravada e integrada ao País. Nas asas da companhia, além de remédios, chegava o progresso, com suas estações de radiotelegrafia e agências flutuantes. Ou dos tempos da 2.ª Guerra, quando a empresa construiu aeroportos na costa nordestina - na época tinham importância estratégica para os Estados Unidos e hoje são base do turismo na região.

Mais de 300 volumes compõem os processos da Panair que, segundo o escrivão do fórum do Rio de Janeiro, se empilhados chegariam a 10 metros de altura. Sasaki achou a papelada fora de ordem e em deterioração. "Os documentos estavam em um banheiro úmido, apodrecendo, e foram salvos por uma funcionária que os colocou em sacos plásticos."