Título: De especialista em crédito da Vasp a camelô de empadas
Autor: Nilson Brandão Junior e Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Economia, p. B6

RIO - Aproximadamente 5 mil trabalhadores do setor aéreo estão à procura de trabalho. São funcionários de companhias que deixaram de voar e que se inscreveram nas bolsas de emprego dos sindicatos de aeronautas (tripulantes) e aeroviários (apoio terrestre). Parte desses desempregados está se virando na informalidade para conseguir sobreviver. O ex-encarregado de crédito e cobrança da Vasp, Ricardo Santos de Lima, de 40 anos, demitido após 14 anos na empresa, vende empadas nas ruas do Rio. "Não tenho vergonha, é um trabalho como outro qualquer", diz Lima.

Com o segundo grau completo e curso de especialização em técnica e mecânica, Lima ganhava R$ 1.400 na Vasp. Agora, com as empadas, consegue R$ 100 por semana. Ele é casado e tem um filho de 15 anos. Foi demitido da Vasp em dezembro, época em que a companhia deu licença sem remuneração para diversos empregados. A empresa não pagou seus rendimentos de dezembro nem o décimo terceiro salário, conta ele, que já não estava recebendo os vales transporte e de alimentação. O FGTS não é depositado desde 1998.

Após 28 anos de trabalho na Vasp, o ex-auxiliar de crédito e cobrança da companhia da Vasp William Lopes Carlos, de 46 anos, vendeu cachorro-quente no carnaval em Araruama, na Região dos Lagos, litoral fluminense, para conseguir algum dinheiro. Ele pensa em vender cerveja e refrigerante na praia, mas está sem dinheiro até para comprar a mercadoria.Carlos tem o segundo grau completo e ganhava R$ 1 mil na Vasp. É casado e tem uma filha de 19 anos, que terá de abandonar a faculdade para trabalhar e ajudar a melhorar o orçamento da família. Além do salário da esposa (R$ 400), seu irmão contribui com R$ 200 por mês e a mãe, com mais R$ 100.