Título: O fast-food cai no mundo. Não aqui
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Economia e Negócios, p. B7

Brasileiros gastam mais de R$ 20 bilhões por ano com refeições rápidas, e o País atrai mais redes que perdem espaço no resto do mundo

O Brasil ainda é o paraíso do fast-food, as refeições rápidas servidas, sobretudo, em lanchonetes. Enquanto em países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Reino Unido o consumo cai, no Brasil aumenta, segundo pesquisa Ipsos que acaba de sair do forno e entrevistou consumidores nesses países para verificar seus comportamentos de consumo (veja tabela). Líder do mercado brasileiro, a rede americana McDonald's vendeu R$ 1,9 bilhão no ano passado, mas agora enfrenta concorrentes. As estimativas indicam que, se for levado em conta o mercado informal das carrocinhas que vendem sanduíches, o brasileiro gasta mais de R$ 20 bilhões por ano com o fast-food.

O dentista Leonardo de Almeida, de 28 anos, e a irmã, a enfermeira Juliana, de 24 anos, encaixam-se no perfil médio dos entrevistados pelo Instituto Ipsos. Na última sexta-feira, ambos devoravam sanduíches de hambúrguer da rede Bob's, concorrente do McDonald's, no Shopping West Plaza, zona Oeste de São Paulo.

"Eu almoço todos os dias arroz, feijão e uma carne. Então, depois do trabalho e antes de um filme ou do lazer, o sanduíche é o ideal. É o tipo de comida que não fica igual quando é feita em casa. E é tudo rápido", justificava Leonardo, com a concordância da irmã Juliana, enquanto saboreava dois andares de hambúrguer, alface, queijo e muito molho.

São esses consumidores que empurram as vendas das grandes redes de fast-food que, em outros países, são alvos de pesadas críticas. Tanto que, a exemplo do McDonald's, têm oferecido, também no Brasil, novas opções, como saladas, iogurtes e sucos naturais de frutas. No mês passado, os executivos do McDonald's informaram ter vendido 1 milhão de refeições à base de saladas, 40% mais do que em 2004 - quando esse prato era uma das opções de verão.

Os números do McDonald's são impressionantes. O faturamento global foi de US$ 45,9 bilhões no ano passado, resultado do atendimento diário de 46 milhões de consumidores em 31.129 restaurantes em 119 países, empregando 1,5 milhão de pessoas. Só no Brasil, 1,5 milhão de pessoas freqüentam diariamente 1.200 pontos-de-venda - dos quais 548 são restaurantes -, em 149 cidades de 21 Estados do País. São 36 mil funcionários para atender esse contingente de brasileiros.

Com uma média de investimentos de R$ 200 milhões por ano, o McDonald's luta para que consumidores como o dentista Leonardo e a enfermeira Juliana não mudem seus hábitos. A pesquisa do Ipsos ainda justifica a aposta até de concorrentes no Brasil.

A rede Burger King desembarcou em novembro no País. Hoje, tem três restaurantes na cidade de São Paulo - Shoppings Ibirapuera, Interlagos e Metrô Tatuapé. A unidade do Ibirapuera já chegou a atender 4 mil pessoas em um dia, o que aguça os planos dos franqueados da rede, que encerrou o balanço de 2004 com faturamento de US$ 11,3 bilhões e 11 mil restaurantes em 61 países.

O projeto da BGK do Brasil, o masterfranqueado do Burger King, prevê a abertura de 50 restaurantes no Estado de São Paulo nos próximos cinco anos, com investimento previsto em US$ 20 milhões. A BGK é um consórcio de investidores, liderado pelo empresário Luiz Eduardo Batalha, que está otimista com os resultados e ressalta a presença de grelhas, que queimam as gorduras do hambúrguer, como um atrativo a mais nesse mercado.

A rede Giraffas também está pondo o pescoço de fora no rico mercado brasileiro de fast-food. Com 174 lanchonetes, a rede - que abriu as portas em Brasília, em 1981 - fatura quase R$ 150 milhões por ano e tem 3,5 mil funcionários. Afinal, enquanto em outros partes do mundo a freqüência de público nas redes fast-food tradicionais cai, o brasileiro, indiferente, vai pedindo cada vez mais um hambúrguer no pão, com muito molho e cada vez mais suculento, sem se preocupar obsessivamente com os quilinhos a mais.