Título: Severino irrita Lula com ultimato e ameaça levar PP para oposição
Autor: Evandro FadelTânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Nacional, p. A4

Presidente da Câmara, que diz ter sido mal interpretado, cobra nomeação de Ciro Nogueira para as Comunicações O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), lançou um ultimato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem à tarde, em Curitiba, cobrando a nomeação de seu apadrinhado, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), para o ministério: "Ou teremos um ministro ou tomaremos uma posição diferente", bradou, ameaçando seguir no rumo da oposição. À noite, já em Brasília, ele foi recebido por Lula e recuou: disse que suas declarações - gravadas pelos jornalistas e exibidas pela TV - tinham sido distorcidas. À saída do palácio, admitiu: "Quem decide é o presidente." Mais cedo, o ultimato de Severino tinha provocado irritação no Palácio do Planalto. No encontro da noite, com Lula e os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), o presidente da Câmara desdisse as gabolices e bravatas que tinha dito nos microfones de Curitiba. "Está na mesa o nome do deputado Ciro Nogueira, o futuro ministro das Comunicações. Se o presidente não assinar amanhã, o PP poderá ser um aliado do PFL", ameaçara ele à tarde no Paraná.

Na hora, o presidente nacional do PP, deputado Pedro Correia (PE), que acompanhava a homenagem ao presidente da Câmara, percebeu a impropriedade e tentou amenizar o aspecto hostil das declarações. "Não houve ultimato", desculpou-se. "Nós estamos conversando toda vida e já tivemos várias reuniões com o presidente e o ministro José Dirceu", disse. "O ministério nos foi oferecido. Está acertado. Só falta o presidente anunciar", apressou-se.

Em Brasília, minutos depois da fala de Severino, veio a reação do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele disse que "cada um tem seu estilo, mas elegância e respeito são muito importantes no trato entre as autoridades".

Igualmente exigente tinha sido a reação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também cobrou de Lula uma definição sobre a reforma ministerial para hoje. Em linguajar mais rebuscado e menos agressivo, afirmou que o PMDB "não está tendo a exata dimensão da reforma". Lula burilou sua aproximação com o PMDB e recebeu ontem também o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP).

NORDESTE

Em Curitiba, Severino foi homenageado ao som de músicas nordestinas pela Assembléia Legislativa e pela Federação do Comércio. Sem cerimônia, ele se antecipou ao anúncio da reforma ministerial e citou Ciro Nogueira como futuro ministro das Comunicações. "Acredito na inteligência do presidente da República. Se ele quiser acertar, o Ciro será nomeado", disse. O deputado piauiense, tímido, não se comprometeu: "Sou só deputado", frisou.

Mais uma vez Severino elegeu a Medida Provisória 232 como alvo preferido de suas críticas, classificando-a de produto da "gula" do governo federal. Hoje ele acompanhará governadores num encontro com o ministro Palocci para discutir a reforma tributária e buscar uma solução consensual para a MP. "Se o governo continuar insistindo muito, eu acabo convocando os 300 deputados que votaram em mim para derrotá-la de uma vez", afirmou.

Severino contou em Curitiba que em 1946, como mascate, percorria o Paraná vendendo jóias e relógios. Ao mencionar seu exemplo, mostrou-se orgulhoso: "Já pensou o que é um mascate sair daqui agora, em um avião, para se encontrar com o presidente da República para decidir quem será o ministro?", comentou. "Não é uma vitória grande do povo? Saber que todo cidadão brasileiro tem uma oportunidade?"

Ele não resistiu a uma pergunta que comparava sua trajetória com a de Lula: "Ele foi mais esperto e já é presidente da República. Eu ainda sou só presidente da Câmara. Mas se me der (um cavalo) bem seladinho, até que eu monto."