Título: Presidente corteja PMDB para 2006
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou pessoalmente na operação política para garantir sua reeleição em 2006. Depois de aprofundar o racha interno no PMDB, ignorando o comando oficial da legenda nas negociações políticas com dirigentes peemedebistas, Lula recebeu ontem, durante quase uma hora e meia, no Palácio do Planalto, o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP). Segundo um importante colaborador presidencial, a parceria com o PMDB tem serventia dupla: além de facilitar a conquista do segundo mandato de Lula, o apoio de um PMDB unido no Congresso pode garantir a governabilidade e força política suficiente para o Planalto "dispensar" o PP ou, pelo menos, não ser forçado a ceder às exigências de pepistas.

Por essa razão, o presidente do PT, José Genoino, procurou Michel Temer ainda no início da semana passada, avisando-o do interesse presidencial em recebê-lo "antes de fechar a reforma ministerial".

"É claro que o assunto aliança política para 2006 veio à baila, mas o presidente teve a delicadeza de não falar em reforma do ministério", contou Temer depois do encontro, ao lembrar que houve uma convenção nacional em dezembro passado, na qual o partido decidiu abandonar seus cargos no governo e ter candidato próprio ao Planalto nas próximas eleições.

Mas Temer também fez questão de frisar que o partido como um todo se interessa pela governabilidade do País e quer colaborar. "Eu mesmo apoiei o governo Fernando Henrique Cardoso, como o senhor sabe, mas tive muita esperança no seu governo", disse o deputado, em uma demonstração de boa vontade.

Segundo o presidente do PMDB, Lula foi enfático no que se refere à aliança. "Quero muito o entrosamento com o PMDB e acho que a parceria é muito importante não só para a governabilidade, mas pela aliança política que pode se reproduzir em todos os Estados", propôs o presidente Lula, segundo relato de seu convidado.

Diante da preocupação presidencial em ter a unidade do PMDB, Temer destacou que tem conversado bastante com representantes das alas governista e de oposição ao Planalto. "Esta é a tarefa a que me proponho porque se a divisão não é boa para o governo, também não é útil ao PMDB. Precisamos chegar a um meio termo", disse Temer, convencido de que o recado foi bem entendido: o acerto terá que passar pela negociação de um novo líder na Câmara, para acabar com a eterna disputa pela liderança.

O convite do Planalto para o encontro com o presidente e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, no início da tarde de ontem, foi feito na sexta-feira e a iniciativa de incluir Temer na lista dos interlocutores do partido parece ser para valer. "Não temos conversado muito nos últimos tempos... É uma pena. Mas quero muito que o Genoino, o Dirceu e eu próprio estejamos sempre com você", disse Lula ao deputado.

"Não quero nem acho útil ao governo e ao partido que eu tenha o monopólio da interlocução com o governo. Ao contrário, acho que ela deve ser ampliada, incluindo também os seis governadores do partido", respondeu Temer, oferecendo-se para organizar um encontro dos governadores peemedebistas (RJ, PE, DF, RS, SC, PR) com o presidente em Brasília. "Há pleitos dos governadores que precisam ser atendidos em créditos que, na realidade, os estados possuem", ponderou o deputado.

Segundo um dirigente peemedebista ligado a Temer, deverá haver uma nova conversa ainda hoje, mas apenas com o ministro José Dirceu. Neste novo encontro, aposta o deputado, Temer deverá alertar o Planalto sobre o risco de tirar o ministério das Comunicações do partido. Mesmo contrário à participação no governo, Temer não negará a informação de que a troca dificultará ainda mais a vida do governo porque provocará uma rebelião da ala governista na Câmara.