Título: Costa usa inauguração para tentar manter cargo
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Nacional, p. A8

Ministro da Saúde entrega Farmácia Popular em Olinda, no seu Estado OLINDA - Com passistas dançando frevo ao som de orquestra e uma claque petista aos gritos de "ministro pode esperar, governador você será", o ministro da Saúde Humberto Costa inaugurou ontem, em Olinda, a primeira farmácia popular da cidade. Simultaneamente, entraram em funcionamento outras seis unidades do Programa Farmácia Popular - uma no Distrito Federal e as outras em cinco capitais: Recife, Fortaleza, Belém, Teresina, Recife e Curitiba. O ministro mostrou-se tranqüilo em relação a uma eventual saída do cargo na reforma ministerial a ser anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estou na condição de ministro, aguardando a decisão do presidente, que terá meu apoio e solidariedade seja qual for a sua decisão". Ele negou-se a comentar a possibilidade de vir a ser remanejado para uma outra pasta - Integração Nacional ou Desenvolvimento Agrário. "O presidente não me convidou para qualquer discussão, não vou discutir especulações", reiterou. O PT pernambucano continua apostando na manutenção do ministro no cargo. A interpretação em relação à "fritura" do ministro é explicada por grande parte dos petistas como um inconformismo dos paulistas que nunca teriam aceitado um nordestino num dos ministérios mais importantes do governo federal. "É uma posição preconceituosa de São Paulo em relação ao Nordeste", disse o líder do PT na Câmara de Olinda, Marcelo Santa Cruz.

Aliada do PT, a prefeita de Olinda, Luciana Santos (PC do B), acredita no fortalecimento de Costa no ministério. "A ação do ministério no Rio de Janeiro (intervenção nos hospitais da cidade) foi ousada e corajosa e o ministério tem tido um desempenho exitoso", afirmou durante a inauguração da primeira farmácia popular do município.

Uma das bandeiras da campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1992, o programa Farmácia Popular ainda não decolou. A prometida rede de farmácias para venda de medicamentos genéricos a preços de 40% a 90% abaixo dos preços de mercado, em todo o Brasil, alcançou ontem o número de 38 unidades em 15 cidades de 11 Estados brasileiros e Distrito Federal. O ministro Humberto Costa prevê que, até o final do ano, 330 farmácias estarão em funcionamento no País.

As 10 primeiras farmácias populares - que vendem 91 itens de produtos genéricos - começaram a funcionar em junho do ano passado, depois de um ano e meio do governo Lula. A assessoria de imprensa do programa explica a demora pela necessidade de parcerias para a sua implantação. O Ministério da Saúde desembolsa R$ 50 mil para a construção ou reforma da farmácia e repassa mensalmente R$ 10 mil para a manutenção, que fica a cargo do parceiro (prefeitura, Estado, hospitais).

Cada farmácia tem um mínimo de nove funcionários. Para a compra dos medicamentos é exigido receita médica, a fim de evitar a automedicação. A única exceção é para o preservativo masculino, também vendido nestas farmácias. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fiocruz, a população brasileira de menor renda compromete 61% dos gastos destinados à saúde com a compra de medicamentos.

O programa foi inspirado numa experiência do governo Miguel Arraes (PSB) em Pernambuco, com a venda a preço de custo dos produtos fabricados pelo laboratório estatal Lafepe.