Título: Rumsfeld e Lula debatem segurança
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Nacional, p. A10

Secretário de Defesa dos EUA chega hoje para encontros com o presidente e Alencar; depois segue a Manaus para conhecer Sivam WASHINGTON - O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, chega hoje a Brasília para uma visita de menos de 24 horas que incluirá um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma visita às instalações da sede do sistema de radares da Amazônia, o Sivam/Sipam, em Manaus. Rumsfeld iniciou a viagem à América do Sul ontem, em Buenos Aires, e passará pela Guatemala antes de voltar aos EUA, amanhã. O secretário da Defesa visita o País a convite de seu colega brasileiro, o vice-presidente José Alencar, que conheceu em novembro passado, num encontro ministerial hemisférico, em Quito, equador. Recém-empossado no cargo, Alencar iniciou a reunião pedindo ao secretário de Defesa que falasse sobre a guerra contra o terrorismo. Segundo fontes oficiais dos dois países, o gesto agradou ao ministro americano, que falou longamente sobre o tema, e produziu efeito também na delegação brasileira, que passou a ser lembrada por Alencar sobre a importância do problema do terrorismo.

O assunto está no topo da agenda da visita de Rumsfeld, reduzida a um número limitado de assuntos. No contexto regional, ele deve insistir na ligação entre o terrorismo e o crime organizado, como o narcotráfico colombiano, e outras manifestações do que chama de "comportamento anti-social", disse um alto funcionário. "Mas o secretário quer sobretudo ouvir."

Rumsfeld chega ansioso para ouvir o governo brasileiro sobre o Haiti. Washington só faz elogios à iniciativa brasileira de assumir o comando da primeira missão de paz latino-americana no continete e quer vê-la continuar para além do fim deste ano, o prazo com o qual o País se comprometeu.

"O papel do Brasil no Haiti é bom para o Haiti, bom para o Brasil e bom para os EUA", disse ao Estado Rogélio Pardo Maurer, o vice-secretário de Defesa para a América Latina, dias depois da reunião de Quito. O Pentágono não mudou de opinião desde então. Na mesma entrevista, Maurer afirmou ser falsa a impressão de que haja um conflito entre as visões de Washington e Brasília sobre segurança e desenvolvimento.

VENEZUELA

Embora não conste explicitamente da agenda, a Venezuela é tema inevitável das discussões de Rumsfeld em Brasília - especialmente a decisão do presidente Hugo Chávez de comprar 100 mil fuzis automáticos AK-47 da Rússia e instalar uma fábrica de munição para essas armas em território venezuelano. A preocupação mais imediata dos EUA é que parte desse material acabe nas mãos do crime organizado na região. No entanto, Rumsfeld deve reiterar a Lula e Alencar que os EUA não fazem objeção à venda de 24 Super Tucanos à Venezuela, anunciada recentemente.

Ele oferecerá, também, intensificação da cooperação bilateral em programas que envolvam tecnologia. Entre os tópicos específicos das conversas, Rumsfelf quer conhecer mais de perto os regulamentos sobre a Lei do Abate, que autoriza a FAB a destruir aviões que entram no espaço aéreo brasileiro em vôos não autorizados.