Título: Testemunha reconhece matadores de Dorothy
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Nacional, p. A12

Agricultor que presenciou o assassinato da missionária ficou frente a frente com os acusados e identificou o pistoleiro 'Fogoió' como autor dos disparos

BELÉM - O agricultor C.P.C., testemunha ocular do assassinato da missionária Dorothy Stang, ocorrido em 12 de fevereiro, ficou frente a frente e reconheceu ontem os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, como autores do crime. No auto de reconhecimento, ele também identificou o capataz Amair Feijoli da Cunha, suposto intermediário da morte, como sendo o homem conhecido por Tato na região de Anapu. Nas duas horas do depoimento prestado no Fórum Cível de Belém ao juiz da comarca de Pacajá, Lucas do Carmo de Jesus, a testemunha reafirmou suas declarações prestadas durante o inquérito policial e não titubeou ao reconhecer Fogoió como o autor dos disparos que mataram irmã Dorothy.

Atendido pelo Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) do governo federal em parceria com o estadual, C.P.C. chegou ao local do depoimento sob forte escolta de policiais civis e militares. Ele encobria a cabeça com um capuz e usava colete à prova de bala. "Preferi tomar o depoimento em Belém por motivo de segurança", explicou Lucas de Jesus.

Segundo o juiz, a testemunha é considerada importante para o processo porque teria chegado ao local do crime quando a missionária ainda conversava com seus assassinos e teria visto, escondida na mata, Dorothy ser morta por Fogoió. Amanhã, no fórum de Pacajá, no sudoeste paraense, serão ouvidas seis testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público.

Lucas de Jesus disse que pretende ouvir todas em um único dia. Quinta-feira será a vez das testemunhas de defesa. Apenas cinco foram arroladas: quatro apontadas pelo advogado de Amair Feijoli da Cunha e uma pela defesa de Clodoaldo Batista. O pistoleiro Rayfran das Neves não arrolou nenhuma testemunha.

Depois da próxima semana, de acordo com cálculos do juiz, ele abrirá prazo para o Ministério Público e a defesa apresentarem as alegações finais, peça processual em que pedem a pronúncia e impronúncia dos acusados. Ao final, o juiz avaliará as provas constantes no processo e decidirá se levará ou não o caso para o Tribunal do Júri. Há possibilidade de o crime ser julgado ainda neste primeiro semestre.

O advogado Augusto Septímio, defensor do fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, acusado pelos dois pistoleiros de ser o mandante da morte da freira, anunciou, ao final do depoimento de C.P.C., que seu cliente vai se apresentar à Justiça no próximo dia 29, quando será ouvido em depoimento no fórum de Pacajá.

Ele evitou dizer aos jornalistas se tem mantido contato com o fazendeiro. "Meu cliente se sente seguro porque nos depoimentos dos outros acusados o nome dele só foi especulado", resumiu Septímio.