Título: Protesto de mulheres é abafado em Brasília
Autor: Tânia Monteiro João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Nacional, p. A4

"Isso é ditadura da violência, a ditadura da fome", diziam as manifestantes A Polícia do Exército conteve ontem uma manifestação de mulheres de militares durante a cerimônia do Dia do Exército, na qual participou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O protesto, que era para ser silencioso, com a abertura de faixas em frente ao palanque de autoridades, tornou-se mais barulhento com a intervenção de cerca de 70 policiais que formaram uma barreira a 400 metros do palanque e impediram que o grupo de 20 mulheres se aproximasse do presidente Lula. No final da solenidade, a presidente da União de Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), Ivone Luzardo, furou o bloqueio e ficou na frente do carro da segurança que acompanha o presidente Lula, chegando a se agarrar no espelho retrovisor, mas não conseguiu falar com o presidente, que saiu em outro carro.

Mesmo de longe, as mulheres chamaram a atenção. "Isso é ditadura da violência, a ditadura da fome. Nós queremos falar com Lula. Ele tem de nos ouvir", gritava Marina Pavanesco, vice-presidente da Associação das Esposas de Militares das Forças Armadas (Anemfa), ao ser agarrada por policiais militares quando forçava a passagem pela barreira. Ela chegou a passar mal e foi atendida por um médico militar, mas se recusou a deixar o local. "Vocês não vão me levar. É melhor me dar um tiro aqui mesmo", gritava.

Várias faixas pediam o cumprimento da promessa de um aumento para a categoria. "Morrer, se preciso for! Ser humilhado, jamais!", dizia uma das faixas. As entidades de mulheres de militares cobram o reajuste de 25% nos salários dos militares prometido para o primeiro trimestre deste ano, depois do aumento de 10% concedido em setembro do ano passado. As mulheres vestiam camisetas pretas com os dizeres "Nada mais temos a perder".

A partir de 26 de abril, elas planejam acampar em frente ao Ministério da Defesa até que o reajuste seja concedido. Ontem, a situação foi contornada com a presença do comandante militar do Planalto, general Marius Teixeira Neto. Ele tentou acalmar as manifestantes propondo intermediar um contato com o presidente.