Título: Lula promete carinho, mas não fala em salários e frustra militares
Autor: Tânia Monteiro João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Nacional, p. A4

No Dia do Exército, eles esperavam do presidente algum sinal sobre o reajuste de 23% prometido desde o ano passado O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou frustrados os militares ontem. De manhã, na cerimônia do Dia do Exército, em vez de pelo menos dar um sinal de que o reajuste de 23% pedido pelos militares poderia vir em breve, como prometido, Lula repetiu o que falou no ano passado, ou seja, que vai reaparelhar as Forças Armadas. Menos de cinco horas depois, ele procurou dar uma esperança maior. Na cerimônia de saudação dos 52 novos oficiais-generais, no Palácio do Planalto, prometeu trabalhar com "carinho" pela categoria, num discurso de improviso. "Quero que vocês saibam que vamos trabalhar não apenas com vontade política, mas com carinho, para ver se encontramos uma forma não apenas de discutir a questão salarial, mas de discutir a recuperação das Forças." Mas o novo discurso não convenceu os militares. Eles já têm um estudo segundo o qual depois dos 10% dados em setembro, a defasagem já não é mais dos 23% que ficaram faltando à época, mas de 37%.

Na cerimônia no Planalto, Lula fez elogios extras aos militares. Afirmou que o Estado "precisa reconhecer o valor dos servidores civis e militares, que se dedicam ao País e muitas vezes não são recompensados nem compreendidos" pela sociedade. "Não houve nenhum momento que eu tenha dado uma tarefa às Forças Armadas que não tenham cumprido sem perguntar, sem reclamar."

Ele falou da dívida com a sociedade: "Vem de séculos e não vamos recuperar em 2 ou 3 anos." Em seguida, pediu "criatividade, inteligência e disposição política" aos novos generais para ajudar o governo na recuperação salarial e de equipamento das Forças Armadas. O tom do novo discurso teve boa repercussão entre os comandantes, que após a cerimônia da manhã não escondiam a frustração. O do Exército, general Francisco Albuquerque, declarou que gostou "muito" do que Lula disse. "A palavra do presidente foi excelente."

No Planalto, Lula lembrou a visita que fez a países africanos. Contou que, ao ver a situação dramática das Forças Armadas de alguns deles, ficou pensando se o Brasil não poderia ajudar. "Mas só poderemos apoiar se estivermos dando às nossas Forças aquilo que elas merecem e precisam." Entre os 52 promovidos há um oficial negro, o major-brigadeiro do ar Osvaldo José de Oliveira.

De manhã, no Quartel-General do Exército, Lula disse que encontrou um Estado desmontado. "O Estado sofreu nestes últimos anos um desmonte. Para que possamos recuperar o papel do Estado e fazê-lo cumprir suas obrigações com nosso povo e os servidores civis e militares, temos muito trabalho pela frente", afirmou. "As Forças Armadas, cientes dos valores da democracia, poderão trabalhar para garantir nossa soberania, propiciando condições para a manutenção da paz e o bem-estar social do povo."