Título: EUA não atacam cúpula, diz Amorim
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Nacional, p. A9

Para ele, "há mais fabulação do que realidade" sobre oposição americana a encontro entre líderes da América do Sul e do mundo árabe As supostas pressões dos Estados Unidos para esvaziar a reunião de líderes da América do Sul e do Mundo Árabe não passam de fabulações da mídia brasileira, afirmou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ao ser questionado sobre o interesse de Washington em enviar um observador para o encontro, marcado para os próximos dias 10 e 11 de maio em Brasília, o chanceler brasileiro preferiu um comentário irônico. Lembrou que, se atendesse aos pedidos similares de todos os países interessados, haveria mais de 100 observadores, o que seria inadministrável. "Como boa parte das sessões serão públicas, qualquer interessado poderá ligar a TV e observar", arrematou. A reunião de cúpula América do Sul-Mundo Árabe foi um dos temas do encontro de chanceleres da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), presidida ontem por Amorim. O tema foi tratado porque será a primeira iniciativa conjunta da Casa, antes mesmo de haver um acordo sobre a sua estrutura institucional - o que será definido apenas no final de setembro deste ano, durante encontro dos 12 presidentes, no Rio de Janeiro. Amorim, entretanto, rebateu todas as insinuações de que os Estados Unidos teriam o propósito de esvaziar o encontro entre os líderes árabes e sul-americanos.

"Nunca senti essas pressões. Eu as ignoro e confio que não haja desejos desse tipo", reiterou. "Todos temos relações próximas e íntimas com os Estados Unidos, o que mostra que essas insinuações são mais exercícios de fabulação do que de realidade", completou.

Ontem, os chanceleres de dez dos 12 países da América do Sul iniciaram a reunião em clima de terapia de grupo, empenhados em debater "o porquê da criação da Casa e para onde vão" com o processo de integração regional. De fato, o objetivo era tratar como será institucionalização do novo bloco sul-americano. Mas a busca dessa receita foi transferida para agosto, quando novamente se reunirão para fechar um documento final que será levado à aprovação dos presidentes, no mês seguinte.

Os chanceleres aproveitaram a reunião para manifestar a preocupação de seus governos com a crise política no Equador e apelaram, por meio de uma nota, para que os poderes do Estado, a sociedade civil e a classe política equatoriana se esforcem para conciliar posições e alcançar uma solução que respeite as instituições democráticas. Diante da ameaça de deposição do presidente do Equador, Lúcio Gutiérrez, os chanceleres sul-americanos reiteraram ainda que o respeito aos governos eleitos e ao estado de direito "são fundamentais para manter a estabilidade, a paz e para alcançar o desenvolvimento dos nossos países".

O presidente do Conselho de Representantes Permanentes do Mercosul, Eduardo Duhalde, foi além e sugeriu que os países da região intercedam junto aos organismos financeiros internacionais no sentido de orientar o Equador a abandonar a dolarização da sua economia.