Título: Governo já prevê crescimento menor
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B1

Projeção para este ano é reduzida de 4,32% para 4% por causa da desaceleração industrial e da manutenção do juro em níveis elevados O governo cortou sua estimativa de crescimento da economia este ano, de 4,32% para 4%. A revisão foi provocada pela desaceleração da atividade industrial e pela manutenção da taxa de juros em níveis elevados. A nova projeção consta do cenário econômico para 2005, como anexo da proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2006. A estimativa de crescimento mais otimista, de 4,32%, era mantida desde meados de 2004, quando o governo preparou a proposta orçamentária para este ano. Apesar da queda, a estimativa do governo ainda supera a do mercado, que é de 3,67%. O crescimento menor é conseqüência de outra constatação da equipe econômica: a inflação ficará mais alta, exigindo juros maiores. A LDO prevê que a Selic média de 2005 será de 18,66% (atualmente está em 19,25%) - mais de 5 pontos porcentuais acima do estimado pelo governo em agosto do ano passado, quando o governo elaborou sua proposta de orçamento para 2005. Em setembro, o Banco Central (BC) iniciou um ciclo de elevações nas taxas de juros para tentar segurar a inflação.

A Selic mais elevada terá outro desdobramento negativo. O governo admite na LDO que o nível de endividamento do País, medido como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), poderá crescer um pouco - ou ficar congelado - nos próximos anos. A dívida líquida do governo federal e das estatais federais, por exemplo, deve passar dos 30,81% do PIB do final de 2004 para 31,77% em 2005, 31,50% em 2006, 31,07% em 2007 e 31,16% em 2008. Isso se a economia voltar a crescer 4,5% de 2006 em diante.

Comparando o quadro esperado pelo governo em agosto de 2004 e esse cenário mais recente, os gastos do governo com a dívida ficarão R$ 32,8 bilhões maiores. As únicas projeções oficiais que não mudam na LDO são as da inflação pelo IPCA, que continuam em 5,1% para 2005, apesar de o mercado já apontar uma alta de 6,1% no Relatório Focus, publicado pelo BC. Na prática, os 5,1% foram mantidos inalterados só porque correspondem à meta de inflação perseguida pelo BC.

Nas discussões internas do governo, as novas estimativas para 2005 tendem a fortalecer os argumentos da ala que pede mudanças na política econômica, como uma meta de inflação mais realista. É o caso do líder do governo no Senado Aloizio Mercadante (PT-SP) e do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini. Atualmente, se a Selic não está surtindo os efeitos desejados sobre a inflação, nas contas públicas ela tem repercussão imediata, já que serve de indexador para R$ 520 bilhões da dívida em títulos.