Título: Ministro quer fim dos juros altos
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B3

Berzoini critica política monetária e defende novas metas

BRASÍLIA-Na véspera do anúncio da nova taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini, defendeu ontem a manutenção da taxa em 19,25% ao ano. "Acho que isso seria razoável para sinalizar o encerramento do ciclo de altas", afirmou o ministro, após divulgar os dados sobre a criação de empregos formais em março, que mostram queda na comparação com o ano passado, tanto no mês (4,84%) quanto no trimestre (15,88%). Berzoini criticou a política monetária e defendeu mudanças nas metas de inflação. Para o ministro, a eficácia da elevação dos juros básicos da economia como instrumento de controle da taxa de inflação é limitada, porque "cerca de um quarto dos índices inflacionários" é determinado por tarifas públicas, petróleo e commodities - como é o caso do aço.

"São fatores que não estão sob o nosso controle", afirmou.

Apesar da defesa intransigente que a equipe econômica faz do sistema de metas de inflação - que norteia as decisões sobre a fixação de juros pelo Banco Central - o ministro afirmou que vê espaço dentro do governo para debater o tema, pois em última instância quem dá a palavra final é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A equipe econômica tende a ser conservadora para não passar um sinal de muita flexibilidade", argumentou Berzoini.

O ministro defendeu uma revisão das metas de inflação. Para este ano a meta é que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seja de 4,5%, admitindo uma margem de tolerância de 2,5 pontos porcentuais para cima ou para baixo.

Para 2006, a meta é 4% com até 2 pontos de variação para cima ou para baixo.

O ministro quer uma meta mais alta - que não especificou - ou, então, que a referência passe a ser uma taxa de inflação calculada somente com base na evolução dos preços livres da economia, desconsiderando o reflexo das tarifas administradas ou a influência de preços externos.

"Se olharmos os preços livres, eles estão bastante comportados", disse o ministro. Ele reconheceu que é importante o combate à inflação, mas destacou que isso deve ser feito "reconhecendo também a realidade".