Título: Criação de vagas cai 16% no ano
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B3

Redução do ritmo é em setores específicos, como indústria e agricultura, informa Ministério do Trabalho A criação de empregos com carteira assinada caiu 15,88% no primeiro trimestre, em comparação com igual período de 2004. Em março, a queda foi de 4,84%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini. Para o ano, a previsão é que sejam criados 1,2 milhão de novos empregos, um número 21,3% menor do que os 1,523 milhão de empregos criados em 2004. Em março, foram abertos 102.965 novos postos de trabalho, elevando para 292.222 o total de vagas criadas este ano. O número, embora positivo, está abaixo do registrado no ano passado e reflete o menor ritmo da atividade econômica.

Berzoini evitou, porém, atribuir esse movimento ao ciclo de elevações das taxas de juros iniciada pelo Banco Central em setembro. Ele acha prematuro fazer esse tipo de avaliação porque, segundo explicou, a redução no ritmo de abertura de novas vagas se localiza em setores específicos, como indústria e agricultura.

A desaceleração nas novas contratações no início do ano foi puxada principalmente pelo setor industrial e pela agricultura. De janeiro a março, a indústria foi responsável pela geração de 51.613 novos empregos com carteira assinada contra 124.933 verificados no mesmo período do ano passado. Na agricultura, o fluxo caiu de 22.294 para 4.193 na mesma comparação.

Na análise do ministro do Trabalho, a indústria está vivendo uma acomodação, já que apresentou uma expansão forte nas admissões no ano passado. "O setor agrícola está apresentado um certo impacto negativo da taxa de câmbio nas exportações e o início da estiagem no Nordeste que afeta em particular o ciclo de cana-de-açúcar", afirmou. O setor de serviços ficou na liderança da oferta de novas vagas no primeiro trimestre (159.297).

Por regiões, o destaque positivo do período foi o Sudeste, com abertura de 81.356 novos postos. Em São Paulo, o Caged registrou a abertura de 158.479 novos empregos formais, sendo 53.026 no mês de março. Mais da metade desse número foi verificado no interior do Estado.

Apesar da perda de fôlego na criação de empregos na indústria, o ministro preferiu não atrelar a situação à elevação dos juros básicos da economia pelo Banco Central desde o segundo semestre do ano passado.

"Ainda é cedo para fazer essa vinculação porque as reduções ainda são localizadas", disse o ministro. "Mas, é claro, que juros baixos e câmbio mais favorável às exportações é sempre bom", completou, acrescentando que é preciso reconhecer que o saldo da balança comercial ainda está surpreendendo positivamente e a percepção dos empresários e investidores sobre os juros é que eles voltarão a cair até o final do ano, pois as decisões de investimentos estão mantidas.

O ministro destacou que, apesar do ritmo mais lento na criação de empregos formais, esse foi o segundo melhor resultado da série do Caged quando comparados os três primeiros meses de cada ano desde 1992. Ele lembrou, ainda, que o resultado de março é melhor do que o de fevereiro, quando foram criadas 73.285 novas vagas. "O quadro ainda é bastante favorável e a tendência, pelo menos até o final do primeiro semestre, é que continue a expansão de empregos formais."