Título: Ford faz primeira encomenda de aço ao exterior após alíquota zero
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Economia, p. B4

Lote chegará em 45 dias e custará mais barato do que a matéria-prima nacional

Três semanas após a decisão do governo federal de zerar a alíquota do Imposto de Importação do aço, a Ford fez a primeira encomenda de fornecedores dos Estados Unidos e Europa. Inicialmente serão entre 5 mil e 7 mil toneladas ao mês. O primeiro lote chegará ao Porto de Camaçari (BA) ou Santos (SP) em 45 dias. Outras montadoras estão fazendo cotações de preços e ainda não decidiram pela importação. Segundo o gerente geral de compras da Ford, Vagner Galeote, o produto chegará ao País mais barato do que o preço cobrado pelas siderúrgicas locais, mesmo com o custo do frete. O presidente da montadora, Antonio Maciel Neto, calcula que os valores cobrados internamente são 30% a 40% mais caros. No exterior, a companhia tem contratos de três anos, enquanto no Brasil o pagamento é à vista. "Não compramos no pico dos preços, pois isso seria insano", diz Galeote.

Apesar de a Ford ser a única montadora a iniciar importações, a medida do governo de isentar o imposto, antes de 12% a 15%, teve reflexos no mercado. "Depois da alíquota zero, as usinas não falaram mais em aumento", diz o diretor de compras da Renault, Emmanuel Gavache. Em janeiro e fevereiro, a indústria pagou aumentos médios de 10% a 12% e esperava novo reajuste para março ou abril.

Os efeitos desses aumentos ainda estão sendo repassados ao consumidor. Ontem, a General Motors reajustou os preços dos carros em 1,2%, em média. Foi o terceiro aumento do ano. Nos dois anteriores, os carros ficaram em média 1,2% e 1,7% mais caros, índices parecidos com os aplicados pelas outras montadoras.

As chapas importadas pela Ford serão usadas em portas e laterais. Segundo Galeote, as importações vão prosseguir até que os preços locais tenham vantagem. O aço importado faz parte da cota que a matriz tem junto aos fornecedores internacionais.

A GM ainda analisa a possibilidade de importar. A Renault informa que, se o preço local continuar acima do externo, também vai importar. A empresa negocia com as autopeças o desenvolvimento do Logan e espera lançá-lo em 2007 com 80% de nacionalização. Será o modelo mais barato da marca.

O presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), José Armando de Figueiredo Campos, reafirma que o aço no Brasil vai seguir o mercado internacional, mas não antecipa quando ocorrerão novos reajustes. No ano passado, o aço para as montadoras subiu cerca de 70%. As usinas ainda não foram comunicadas de repasses do minério de ferro, que subiu 71% no mercado externo.

"A medida do governo é inócua, pois o setor está conectado ao mundo; se a demanda interna e externa crescerem, os preços vão subir e não haverá oferta para importação", diz Campos, que considera "um blefe" o anúncio da Ford. "Talvez alguma empresa traga algumas toneladas só para constar na nota fiscal." Os executivos participaram, em São Paulo, do seminário Compras automotivas: hora da decisão, organizado pela Autodata.