Título: Juro real no Brasil é quase 10 vezes maior que o de 40 países
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B4

Posição do País não vai se alterar nem mesmo se o Copom decidir hoje reduzir a taxa A taxa de juro real no Brasil atingiu 12,9% ao ano em março, quase dez vezes maior que a média de 1,2% dos 40 países pesquisados pela consultoria GRC Visão. Se comparada à média dos países desenvolvidos (0,6%), o juro brasileiro é 20 vezes maior. Já em relação aos emergentes (2%), a diferença é de mais de seis vezes. Essa taxa é calculada, no caso do Brasil, com base na Selic descontando a inflação (IPCA) projetada para os próximos 12 meses. A tendência é o País continuar na liderança dos maiores juros reais do mundo, mesmo se o Comitê de Política Monetária (Copom) optar hoje pelo fim do ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro. O economista e gerente de produtos da GRC, Alexsandro Agostini Barbosa, lembra que, se o BC decidir pela manutenção a Selic, ficará em 19,25% ao ano até agosto.

Considerando uma taxa básica de 18% no final de 2005, diz ele, os juros reais recuariam para 11,2% ao ano, nível ainda considerado bastante elevado e que tende a desestimular investimentos na produção. "Com esses juros, as empresas preferem aplicar recursos no mercado financeiro a investir na expansão da produção", argumenta ele.

Desde setembro, a taxa Selic já subiu 3 pontos porcentuais, de 16% para 19,25% - também a maior taxa nominal do mundo. Os juros reais subiram na mesma intensidade e ultrapassaram, com folga, a Turquia, hoje com uma taxa de 7,3% ao ano. O Brasil está bem distante dos países emergentes.

No caso da Argentina, que declarou moratória em 2002, a taxa real está negativa em 5,8%, resultado de juros básicos de 2,9% ao ano e inflação em torno de 9%. Mas Barbosa argumenta que esse também não é um bom sinal. "É preciso ter um juro real saudável, com Selic e inflação baixas. Não adianta ter uma pequena taxa de juro real se o resultado é decorrente de inflação alta", diz ele.

Outro exemplo, segundo o levantamento da GRC Visão, é a Venezuela. O país tem a segunda maior taxa nominal de juros, de 17,1% ao ano, mas o juro real é 1,1% ao ano, também efeito da inflação elevada.

APOSTA DO MERCADO

Depois de sete altas consecutivas e uma taxa real no patamar atual, a maioria dos analistas do mercado espera que o Copom decida pela manutenção dos juros na reunião que termina hoje. Na opinião dos economistas, os sinais de desaceleração da atividade econômica, o alívio no cenário internacional e, sobretudo, a constatação de que a inflação de curto prazo não é pressionada pelos preços livres resumem os argumentos para o fim do ciclo de aperto monetário. Para eles, os aumentos promovidos na taxa básica nos últimos meses já surtiram efeito na economia.

Apesar dessas apostas, as taxas de juros futuros negociadas na BM&F tiveram um pequeno avanço no pregão de ontem. Os contratos de janeiro de 2006 fecharam com alta de 0,1%; os de julho de 2005, com 0,05%; e os de outubro de 2005, com 0,1%.

Uma pequena parcela dos economistas, no entanto, acredita numa elevação de 0,25 ou 0,50 ponto porcentual hoje. A GRC, por exemplo, aposta num aumento de 0,25 ponto. Segundo a consultoria, a explicação está no fato de a maioria das variáveis analisadas pelo Copom ter se deteriorado entre a reunião de março e a de agora, como é o caso da expectativa de inflação para este ano e também dos núcleos de inflação.

Outro que aposta em alta é o Unibanco. Às vésperas da reunião, o banco decidiu mudar de time e alterar suas previsões para a Selic.No lugar de manter a taxa em 19,25% ao ano, o Banco Central deverá optar por aumentá-la em 0,25 ponto porcentual, afirma o economista-chefe do Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias.

"Depois da última ata e do relatório de inflação, concluímos que o ciclo de aperto monetário estaria encerrado. Mas, desde que saiu a ata, nos deparamos com uma série de revisões para cima nas previsões de inflação para abril e maio", ressaltou