Título: Fiesp quer acelerar política industrial
Autor: Paula Puliti e Ricardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2005, Economia, p. B5

Empresários pretendem tirar proposta do papel e decidem apresentar novo projeto

Os empresários paulistas estão insatisfeitos com a falta de andamento da política industrial federal, lançada há um ano, e decidiram apresentar uma nova proposta ao governo. Um grupo do Conselho de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosec-Fiesp) está debruçado sobre o tema e deverá ter pronto em três meses um projeto que "mobilize a sociedade e o governo em torno da questão", nas palavras do presidente do Cosec, deputado Antonio Delfim Netto (PP-SP). No documento, o setor privado vai reivindicar, entre outras coisas, maior participação no processo de tirar do papel a política industrial. "Temos de passar para a fase em que a política industrial deixa de ser um projeto de governo para ser um programa da indústria", disse o professor David Kupfer, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista do Cosec na área de política industrial.

O ex-ministro Delfim Netto disse que a PI é "nebulosa, imprecisa e não tem a profundidade que a indústria necessita". Kupfer afirmou que, embora seja impossível avaliar resultados com um ano de vida, o que se pode perceber é que a dimensão horizontal da PI é fraca, pouco consistente e não suficientemente desenhada, "e por isso não saiu ainda do papel".

As medidas adotadas até agora no âmbito da PI, como redução de tributos e abertura de algumas linhas de crédito específicas para os setores contemplados (bens de capital, fármacos, microeletrônica e softwares) são pontuais. Embora bem-vindas, elas são insuficientes para lidar com o sério problema da dinamização do tecido industrial brasileiro.

ESTRATÉGIA COORDENADA

Para os empresários, é fundamental que o governo aja com vigor para tirar do papel a política industrial lançada há um ano. O diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini, acredita que uma das formas essenciais para dar andamento a esse processo é a criação de uma estratégia coordenada entre vários ministérios, com destaque para os de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Agricultura e Relações Exteriores. "Como vão se compor as ações para transformar essa intenção de política industrial em realidade? Não vamos iniciar esta discussão com outros setores. Parece mais importante dizer o que fazer com os setores escolhidos", disse Francini.

Ele se referia à decisão do governo, que definiu como prioridade começar sua política industrial com quatro segmentos: fármacos, bens de capital, softwares e microeletrônica. O foco dessa decisão era equilibrar a balança comercial destas áreas produtivas, com a redução das importações de matérias-primas e elevação das exportações de mercadorias com maior valor agregado. Um outro objetivo das medidas era preparar estes segmentos fabris para a acirrada competição com as empresas estrangeiras no mercado mundial.

Para Paulo Setúbal, presidente da Itautec e membro do Conselho Superior de Economia da Fiesp (Cosec), a política industrial precisa ser integrada com um conjunto de políticas, que vão desde a concessão de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a Taxa de Juros Longo Prazo (TJLP), até combate à entrada de produtos importados ilegais. "Não adianta pensar no desenvolvimento da produção de semicondutores no Brasil e termos ao mesmo tempo o maior contrabando do mundo. Não dá. É preciso coerência."